Conhecer o mundo de Jesus (Pt 13)

Ómega e alfa. As línguas e o seu estudo.



Situação linguística do Império romano
As línguas com maior difusão no império romano do século I d.C. - naturalmente ao lado das que eram faladas localmente pelas várias populações - eram duas: o latim e o grego. O latim e o grego. O latim era a língua oficial do império e dos dominadores romanos e era usada nos textos jurídicos, bem como nos actos e práticas burocráticas.
O grego, depois das conquistas de Alexandre nos finais do século IV a.C. tornara-se a língua internacional de toda a área mediterrânea oriental, sendo usada no mundo comercial, nas transacções e nos actos administrativos. Era apreciado e cultivado pelos próprios romanos por considerarem o mundo grego fascinante e culturalmente rico. Precisamente por causa da sua difusão, o grego do século I era diferente do grego clássico. Era uma língua de uso mais popular, chamada Koiné (que em grego significa exactamente "comum"), por vezes misturada com termos orientais e latinos. Estava difundida em grande parte do império (Egipto, Palestina, Síria) mas também na Itália, tanto por causa da presença das colónias gregas como sobretudo por causa da conquista romana que determinou a chegada de muitos escravos gregos a Roma.

As línguas usadas na Palestina
O hebraico era a língua das Escrituras Sagradas e era conhecida e estudada pelos judeus precisamente para poderem lê-las e interpretá-las. Contudo, já não era muito falada no tempo de Jesus, embora não se possa excluir de todo que ainda fosse usada por alguns grupos, sobretudo na Judeia. Certamente que o hebraico sobrevivia ainda como língua literária, como se vê em algumas cartas de Bar-Kochba e nos escritos que reúnem os ensinamentos dos mestres do judaísmo. Seja como for, no período a seguir ao exílio da Babilónia, o aramaico foi-se difundindo cada vez mais, tornando-se a língua-mãe da Palestina. Era falado em vários dialectos e com pronúncias diferentes. Os habitantes da Galileia e do Norte atenuavam os sons guturais e aspirados, confundiam ou não pronunciavam algumas consoantes, ao passo que os da Judeia e do Sul falavam de maneira muito mais correcta.
Para dar a todos a possibilidade de compreender os textos bíblicos (escritos em hebraico), começaram a aparecer neste período algumas traduções em aramaico, que por vezes revelavam uma tendência para parafrasear e interpretar os textos. Vieram a designar-se de Targum.

A instrução entre os judeus
No que diz respeito à educação, ela dependia muito do local onde se morava, tal como da situação económica e social da família era considerada como o primeiro lugar de aprendizagem e conhecimento da fé, sendo o pai o primeiro professor dos filhos. Mesmo que não saibamos muito acerca dos conteúdos do ensino, é claro no entanto que, logo desde tenra idade, ensinavam aos filhos as Escrituras Sagradas, especialmente a Lei, muitas vezes por repetição mnemónica de certas passagens.
Também havia a possibilidade de contratar um mestre. Havia escolas rabínicas para o estudo e aperfeiçoamento das Escrituras. Tais escolas eram dirigidas por escribas, quer dizer, por pessoas que se dedicavam à conservação da tradição, a explicar e a usar as Escrituras. Chamavam-se sábios, doutores da Lei ou mestres. Quem quisesse ser escriba tinha de percorrer um longo e profundo currículo de estudos, na escola de um mestre.
Quando tivesse acabado os estudos com êxito, o mestre declarava-o escriba; impunha-lhe as mãos e ordenava-o. O novo escriba era então integrado na cadeia da tradição que reclamava remontar a Moisés e podia, doravante, responder pessoalmente, como mestre, às perguntas que lhe fizessem e emitir o seu juízo.
Também importa notar que os conteúdos que eram transmitidos na instrução dos jovens variavam consoante fossem judeus da Palestina ou da diáspora. Nas cidades helenísticas e romanas, as Escrituras eram lidas em grego; na Palestina eram lidas em hebraico e aramaico, pois que a mentalidade cultural era diversa e tinha bastante influência. Alguns judeus da diáspora não tinham pejo em enviar os seus filhos às escolas pagãs que havia nas suas cidades, de forma a garantir-lhes uma instrução adequada.

Entre os gregos
Já entre os gregos, a educação era considerada muito importante e, em muitos casos, o próprio Estado pagava aos mestres e promovia a cultura. As disciplinas tratavam tanto do corpo como da mente: estavam muito desenvolvidas as de tipo físico, como o atletismo e as matérias filosófico-literárias. Eram principalmente os rapazes que eram admitidos na escola e, a seguir, os escravos; em certos casos também as raparigas (mas por menos anos). Habitualmente os estudos continuavam até aos dezoito anos.
A instrução assentava principalmente na leitura e memorização de textos de autores clássicos e modernos, bem como no diálogo sobre questões filosóficas. As ferramentas de trabalho eram tabuletas de cera, sobre as quais se escrevia com instrumentos pontiagudos. As crianças provenientes de famílias com mais posses eram habitualmente acompanhadas por um escravo designado "pedagogo", que tinha o encargo de levar a criança à escola, supervisioná-la e sobretudo vigiar a sua boa conduta.

Entre romanos
Não havia escolas públicas em Roma; por isso, não havia a obrigação da escolaridade nem o Estado subvencionava as escolas. Isto contribuiu para que a cultura ficasse reservada aos ricos, até porque os filhos das classes mais baixas, para além das razões económicas, não viam utilidade alguma em frequentar uma ecola, visto que ela não educava para artes e ofícios, coisa que o pai ou a família em geral providenciavam. Os romanos davam muita importância à cultura grega, mas tinham desenvolvido mais a retórica do que a filosofia, pois que davam mais importância aos aspectos práticos das matérias, como era o caso da geometria, da matemática e da música. Era fundamental o estudo de textos latinos e gregos, muitas vezes aprendidos de cor.
As escolas eram muito simples do ponto de vista material, sendo por vezes improvisadas a céu aberto, pelos caminhos. Os alunos sentavam-se em bancos e escreviam, inicialmente, em tabuletas de cera; mais tarde sobre folhas de papiro ou sobre pergaminhos já usados. A escola era frequentada pelos rapazes, mas também pelas raparigas que fossem de famílias ricas. O estudo estava estruturado em ciclos: o curso elementar, que ia dos 7 aos 11 anos; o secundário, que ia dos 12 aos 16 anos, onde se aprofundavam a gramática e a literatura; e depois a escola superior, assente na retórica, na medida em que saber falar em público era uma qualidade muito ambicionada entre os romanos. Tal como entre os gregos, também os pais romanos entregavam a vigilância dos filhos a um pedagogo.



por Filippo Serafini e Roberta Taverna
in 'ABC para conhecer o mundo de Jesus'
Edições Paulus





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