10. A soberba
No nosso percurso de catequeses sobre os vícios e as virtudes, hoje chegamos ao último dos vícios: a soberba. Os gregos antigos definiam-na com um vocábulo que poderia ser traduzido como “esplendor excessivo”. Com efeito, a soberba é autoexaltação, presunção, vaidade. O termo consta também daquela série de vícios que Jesus enumera para explicar que o mal deriva sempre do coração do homem (cf. Mc 7, 22). O soberbo é quem se julga muito mais do que é na realidade; quem anseia por ser reconhecido como maior do que os outros, quer ver sempre reconhecidos os seus próprios méritos e despreza os outros, considerando-os inferiores.
A partir desta primeira descrição, vemos que o vício da soberba está muito próximo da vanglória, que já foi apresentada na última vez. No entanto, se a vanglória é uma doença do ego humano, não deixa de ser uma enfermidade infantil quando a comparamos com a devastação de que a soberba é capaz. Analisando as loucuras do homem, os monges da antiguidade reconheciam uma certa ordem na sequência dos males: começa-se pelos pecados mais rudes, como a gula, para depois chegar aos monstros mais inquietantes. De todos os vícios, a soberba é a grande rainha. Não é por acaso que, na Divina Comédia, Dante a insere exatamente no primeiro quadro do purgatório: quem cede a este vício está longe de Deus, e a emenda deste mal exige tempo e esforço, mais do que qualquer outra batalha a que o cristão é chamado.
Na realidade, neste mal esconde-se o pecado radical, a pretensão absurda de ser como Deus. O pecado dos nossos antepassados, narrado no livro do Génesis é, para todos os efeitos, um pecado de soberba. O tentador diz-lhes: «Quando comerdes dele, os vossos olhos abrir-se-ão e sereis como Deus» (Gn 3, 5). Os escritores de espiritualidade estão mais atentos a descrever as repercussões da soberba na vida de todos os dias, a explicar como ele arruína as relações humanas, a realçar como este mal envenena o sentimento de fraternidade que, pelo contrário, deveria unir os homens.
Eis, pois, a longa lista de sintomas que revelam a cedência da pessoa ao vício da soberba. Trata-se de um mal com evidente aspeto físico: o soberbo é altivo, tem a “cerviz dura”, ou seja, um pescoço rígido, que não se dobra. É um homem que julga facilmente e com desdém: por nada emite sentenças irrevogáveis contra outros, que lhe parecem irremediavelmente inábeis e incapazes. Na sua arrogância, esquece-se que, nos Evangelhos, Jesus nos atribuiu poucos preceitos morais, mas num deles mostrou-se intransigente: nunca julgar. Percebemos que lidamos com um orgulhoso quando, fazendo-lhe uma pequena crítica construtiva ou uma observação completamente inofensiva, ele reage de modo exagerado, como se alguém tivesse ofendido a sua majestade: fica furioso, grita, interrompe relações com os outros de maneira ressentida.
Há pouco a fazer com uma pessoa doente de soberba. É impossível falar com ela, e muito menos corrigi-la, porque afinal ela já não está presente em si. É preciso ter paciência com ela, porque um dia o seu edifício desabará. Um provérbio italiano diz: “A soberba vai a cavalo e volta a pé”. Nos Evangelhos, Jesus encontra muitas pessoas soberbas e, muitas vezes, foi desenterrar este vício até em pessoas que o escondiam muito bem. Pedro ostenta a sua fidelidade até ao fim: «Ainda que todos te abandonem, eu não o farei!» (cf. Mt 26, 33). Mas em breve fará a experiência de ser como os outros, também ele assustado perante a morte, que não imaginava tão próxima. E assim o segundo Pedro, aquele que já não levanta o queixo, mas derrama lágrimas salgadas, será medicado por Jesus e estará finalmente em condições de suportar o peso da Igreja. Primeiro, ostentava uma presunção que era melhor não manifestar; agora, pelo contrário, é um discípulo fiel a quem, como diz uma parábola, o senhor pode «confiar todos os seus bens» (Lc 12, 44).
A salvação passa pela humildade, verdadeiro remédio para qualquer ato de soberba. No Magnificat, Maria entoa um cântico ao Deus que, com o seu poder, dispersa os soberbos nos pensamentos doentios do coração. É inútil roubar algo a Deus, como pretendem os soberbos, porque afinal Ele deseja dar-nos tudo. Por isso o apóstolo Tiago, dirigindo-se à sua comunidade ferida por lutas internas derivadas do orgulho, escreve: «Deus resiste aos soberbos, mas aos humildes concede a sua graça» (Tg 4, 6).
Portanto, amados irmãos e irmãs, aproveitemos esta Quaresma para lutar contra a nossa soberba.
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