17. A fé




Hoje gostaria de falar sobre a virtude da . Com a caridade e a esperança, esta virtude é chamada “teologal”. São três as virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Por que são teologais? Porque só podem ser vividas graças ao dom de Deus. As três virtudes teologais são os grandes dons que Deus concede à nossa capacidade moral. Sem elas, poderíamos ser prudentes, justos, fortes e temperantes, mas não teríamos olhos que veem até no escuro, não teríamos um coração que ama até quando não é amado, não teríamos uma esperança que ousa contra toda a esperança.

O que é a fé? O Catecismo da Igreja Católica explica-nos que a fé é o ato com que o ser humano se abandona livremente a Deus (n. 1814). Nesta fé, Abraão foi o grande pai. Quando aceitou deixar a terra dos seus antepassados para se dirigir rumo à terra que Deus lhe teria indicado, provavelmente foi julgado louco: por que deixar o conhecido pelo desconhecido, o certo pelo incerto? Por que fazer isto? É louco? Mas Abraão põe-se a caminho, como se visse o invisível. É o que a Bíblia diz de Abraão: “Partiu, como se visse o invisível”. Isto é lindo! E será ainda este invisível que o fará subir à montanha com o seu filho Isaac, o único filho da promessa, que só no último momento será poupado ao sacrifício. Nesta fé, Abraão torna-se o pai de uma longa linhagem de filhos. A fé tornou-o fecundo.

Homem de fé será Moisés que, aceitando a voz de Deus até quando mais do que uma dúvida o podia abalar, continuou a manter-se firme e a confiar no Senhor, e até a defender o povo a quem, pelo contrário, muitas vezes faltava a fé.

Mulher de fé será a Virgem Maria que, recebendo o anúncio do Anjo, que muitos teriam rejeitado como demasiado exigente e arriscado, responde: «Eis a serva do Senhor: faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). E com o coração cheio de fé, com o coração repleto de confiança em Deus, Maria põe-se a caminho por uma estrada da qual não conhece nem o trajeto nem os perigos.

A fé é a virtude que faz o cristão. Pois ser cristão não consiste antes de mais em aceitar uma cultura, com os valores que a acompanham, mas ser cristão significa acolher e preservar um vínculo, um vínculo com Deus: eu e Deus; a minha pessoa e o rosto amável de Jesus. É este vínculo que nos torna cristãos.

A propósito de fé, vem-me à mente um episódio do Evangelho. Os discípulos de Jesus atravessam o lago e são surpreendidos por uma tempestade. Pensam que conseguirão salvar-se com a força dos seus braços, com os recursos da experiência, mas o barco começa a encher-se de água e entram em pânico (cf. Mc 4, 35-41). Não se dão conta de que têm a solução diante dos olhos: Jesus está ali com eles no barco, no meio da tempestade, e Jesus dorme, diz o Evangelho. Quando finalmente o acordam, assustados e até zangados porque Ele os deixa morrer, Jesus repreende-os: «Por que tendes medo? Ainda não tendes fé?» (Mc 4, 40).

Eis, portanto, o grande inimigo da fé: não é a inteligência, não é a razão, como, infelizmente, alguns continuam a repetir obsessivamente, mas o grande inimigo da fé é o medo. Por isso, a fé é o primeiro dom a receber na vida cristã: um dom que deve ser acolhido e pedido diariamente, para que se renove em nós. Aparentemente, é um dom pequeno, mas é essencial. Quando fomos levados à pia batismal, os nossos pais, depois de terem anunciado o nome que tinham escolhido para nós, foram interrogados pelo sacerdote – foi isto que aconteceu no nosso Batismo - «O que pedis à Igreja de Deus?». E os pais responderam: «A fé, o batismo!».

Para um pai cristão, consciente da graça que lhe foi concedida, é este o dom a pedir também para o seu filho: a fé. Com ela, o pai sabe que, até no meio das provações da vida, o seu filho não se afogará no medo. Eis, o inimigo é o medo. Sabe também que, quando deixar de ter um pai nesta terra, continuará a ter um Deus Pai no céu, que nunca o abandonará. O nosso amor é tão frágil, e só o amor de Deus vence a morte!

Certamente, como diz o Apóstolo, a fé não é de todos (cf. 2 Ts 3, 2), e até nós, que somos crentes, muitas vezes sentimos que a temos em pouca quantidade. Muitas vezes, Jesus pode repreender-nos, como fez com os seus discípulos, por sermos “homens de pouca fé”. No entanto, é o dom mais feliz, a única virtude que nos é permitido invejar. Pois quem tem fé é habitado por uma força que não é apenas humana; com efeito, a fé “desencadeia” em nós a graça e abre a mente ao mistério de Deus. Como certa vez Jesus disse: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: “Desarraiga-te e planta-te no mar”, e ela obedecer-vos-ia» (Lc 17, 6). Por isso, também nós, como os discípulos, lhe repetimos: Senhor, aumenta a nossa fé! (cf. Lc 17, 5) É uma linda oração! Digamo-la todos juntos? “Senhor, aumenta a nossa fé”. Digamo-la juntos: [todos] “Senhor, aumenta a nossa fé”. Demasiado fraco, um pouco mais alto: [todos] “Senhor, aumenta a nossa fé!”. Obrigado!


APELO

Não nos esqueçamos de rezar pela paz: oremos pelos povos que são vítimas da guerra. A guerra é sempre uma derrota, sempre! Pensemos na martirizada Ucrânia, que tanto sofre. Pensemos nos habitantes da Palestina e de Israel, que estão em guerra. Pensemos nos Rohingyas, em Myanmar, e peçamos a paz. Peçamos uma paz verdadeira para estes povos e para o mundo inteiro. Infelizmente, hoje, os investimentos que dão mais lucro são as fábricas de armas. É terrível, ganhar dinheiro com a morte. Peçamos a paz, que a paz prevaleça!




Catequese do Papa Francisco
1 de maio de 2024



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