11. O agir virtuoso
Depois de ter concluído a panorâmica sobre os vícios, chegou o momento de dirigir o olhar para o quadro simétrico, que se opõe à experiência do mal. O coração do homem pode ceder às más paixões, pode dar ouvidos a tentações nocivas disfarçadas sob vestes convincentes, mas também pode opor-se a tudo isto. Por mais difícil que seja, o ser humano foi feito para o bem, que o realiza verdadeiramente, e pode também praticar esta arte, fazendo com que certas disposições se tornem permanentes nele ou nela. A reflexão sobre esta nossa maravilhosa possibilidade constitui um capítulo clássico da filosofia moral: o capítulo das virtudes.
Os filósofos romanos chamavam-lhe virtus, os gregos, areté. O termo latino realça sobretudo que a pessoa virtuosa é forte, corajosa, capaz de disciplina e ascese; por isso, o exercício das virtudes é fruto de uma longa germinação, que exige esforço e até sofrimento. Por outro lado, a palavra grega aretéindica algo que excede, que emerge, que suscita admiração. Portanto, a pessoa virtuosa é aquela que não se desvirtua, deformando-se, mas é fiel à sua vocação, realiza-se plenamente.
Estaríamos no caminho errado se pensássemos que os santos são exceções da humanidade: uma espécie de círculo restrito de campeões que vivem além dos limites da nossa espécie. Nesta perspetiva que acabamos de introduzir sobre as virtudes, os santos são sobretudo aqueles que se tornam plenamente eles mesmos, que realizam a vocação própria de cada homem. Como o mundo seria feliz, se a justiça, o respeito, a benevolência mútua, a abertura de espírito e a esperança fossem a normalidade compartilhada, e não uma rara anomalia! Por isso, o capítulo do agir virtuoso, nestes nossos tempos dramáticos em que muitas vezes nos confrontamos com o pior do humano, deveria ser redescoberto e praticado por todos. Num mundo deformado, devemos recordar o modo como fomos moldados, a imagem de Deus que está impressa para sempre em nós.
Mas como podemos definir o conceito de virtude? O Catecismo da Igreja Católica oferece-nos uma definição exata e concisa: «A virtude é uma disposição habitual e firme para fazer o bem» (n. 1803). Portanto, não se trata de um bem improvisado e um pouco casual, que cai do céu de maneira episódica. A história diz-nos que até os criminosos, num momento de lucidez, praticaram boas ações; certamente, estas ações estão inscritas no “livro de Deus”, mas a virtude é outra coisa. É um bem que nasce de um lento amadurecimento da pessoa, até se tornar uma sua caraterística interior. A virtude é um habitus da liberdade. Se somos livres em cada ação, e cada vez que somos chamados a escolher entre o bem e o mal, a virtude é o que nos permite ter um hábito para a escolha certa.
Se a virtude é um dom tão bom, coloca-se imediatamente uma interrogação: como é possível adquiri-la? A resposta a esta pergunta não é simples, é complexa.
Para o cristão, a primeira ajuda é a graça de Deus. Com efeito, o Espírito Santo age em nós, batizados, trabalhando na nossa alma para a conduzir a uma vida virtuosa. Quantos cristãos chegaram à santidade através das lágrimas, constatando que não conseguiam superar certas debilidades! Mas experimentaram que Deus completou esta boa obra que para eles era apenas um esboço. A graça precede sempre o nosso compromisso moral!
Além disso, nunca devemos esquecer a riquíssima lição que nos vem da sabedoria dos antigos, que nos diz que a virtude cresce e pode ser cultivada. E para que isto aconteça, o primeiro dom do Espírito a pedir é precisamente a sabedoria. O ser humano não é um território livre para a conquista de prazeres, emoções, instintos, paixões, sem poder fazer nada contra tais forças, às vezes caóticas, que o habitam. Um dom inestimável que possuímos é a abertura mental, é a sabedoria que é capaz de aprender com os erros para orientar bem a vida. Além disso, precisamos da boa vontade: a capacidade de escolher o bem, de nos moldarmos mediante o exercício ascético, evitando os excessos.
Amados irmãos e irmãs, comecemos assim o nosso caminho através das virtudes, neste universo sereno que se apresenta exigente, mas decisivo para a nossa felicidade.
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