Os discípulos de Emaús



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De onde vem este texto?

Como é que a narrativa de Lucas relata os acontecimentos do dia de Páscoa? Na manhã de Páscoa, as amigas de Jesus, chegadas ao túmulo, recebem de dois anjos a notícia inacreditável: «Não está aqui; ressuscitou!» (Lc 24,6). Correm a prevenir os apóstolos que não acreditam nelas. Pedro vai verificar; não vê senão o sudário. Volta para casa, admirado com o que aconteceu (vv. 11-12). Então começa a célebre narrativa do encontro no caminho de Emaús. É o último grande episódio do seu Evangelho. Redigiu-o e encenou-o para os seus leitores, que não viram o Senhor ressuscitado. Também eles podem fazer a mesma experiência que Cléofas e o seu amigo: não é isto que vivem em cada domingo, em cada Eucaristia?




Dois dos discípulos de Emaús
iam a caminho duma povoação chamada Emaús,
que ficava a sessenta estádios de Jerusalém.




Conversavam entre si sobre tudo o que tinha sucedido.
Enquanto falavam e discutiam,
Jesus aproximou Se deles e pôs Se com eles a caminho.




Mas os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem.
Ele perguntou lhes.
«Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?»
Pararam entristecidos.




E um deles, chamado Cléofas, respondeu:
«Tu és o único habitante de Jerusalém
a ignorar o que lá se passou estes dias».
E Ele perguntou: «Que foi?»




Responderam Lhe:
«O que se refere a Jesus de Nazaré,
profeta poderoso em obras e palavras
diante de Deus e de todo o povo;
e como os príncipes dos sacerdotes e os nossos chefes
O entregaram para ser condenado à morte e crucificado.
Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de libertar Israel.
Mas, afinal, é já o terceiro dia depois que isto aconteceu.




É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos sobressaltaram:
foram de madrugada ao sepulcro,
não encontraram o corpo de Jesus
e vieram dizer que lhes tinham aparecido uns Anjos
a anunciar que Ele estava vivo.
Mas a Ele não O viram».




Então Jesus disse lhes:
«Homens sem inteligência e lentos de espírito
para acreditar em tudo o que os profetas anunciaram!
Não tinha o Messias de sofrer tudo isso
para entrar na Sua glória?»




Depois, começando por Moisés
e passando por todos os Profetas,
explicou lhes em todas as Escrituras o que Lhe dizia respeito.
Ao chegarem perto da povoação para onde iam,
Jesus fez menção de ir para diante.




Mas eles convenceram n'O a ficar, dizendo:
«Ficai connosco, Senhor, porque o dia está a terminar
e vem caindo a noite».
Jesus entrou e ficou com eles.





E quando Se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção,
partiu-o e entregou-lho.
Nesse momento abriram se lhes os olhos e reconheceram n'O.
Mas Ele desapareceu da sua presença.




Disseram então um para o outro:
«Não ardia cá dentro o nosso coração,
quando Ele nos falava pelo caminho
e nos explicava as Escrituras?»




Partiram imediatamente de regresso a Jerusalém
e encontraram reunidos os Onze e os que estavam com ele,
que diziam:
«Na verdade, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão».




E eles contaram o que tinha acontecido no caminho
e como O tinham reconhecido ao partir o pão.



Reflexões de Philippe Gruson
in «Ler e rezar a Bíblia», volume 2


Porque tinham os olhos impedidos de O reconhecer?

Do v. 16 ao 31 será uma questão de falta de vista que os impede de ver o Ressuscitado com os seus próprios olhos? Certamente que não. Como Maria de Magdala, que o tomou pelo jardineiro (Jo 20, 15), Cléofas e o seu companheiro (ou a sua companheira?) não conseguem reconhecer vivo , diante deles, aquele de quem já falam no passado e de quem choram a morte. O sofrimento fecha-os em recordações passadas e, sobretudo, na deceção (v. 21). Para reconhecer Jesus vivo, vai ser-lhes necessário percorrer um caminho da fé, com os seus imprevistos e as suas incertezas. Noutras passagens, Lucas narra três outros encontros decisivos, «no caminho»: o viajante de Jericó, socorrido pelo Samaritano (Jesus), com vinho e óleo (Lc 10,30-37); o Etíope, que Filipe batiza na estrada de Gaza (At 8,26-39); e Saulo, interpelado na estrada de Damasco e, pouco depois, batizado (At 9).


Como são explicadas as escrituras?

Ao sofrimento dos dois discípulos, Jesus responde com uma espécie de censura: é a vossa incredulidade que vos faz sofrer, porque continuam presos aos sonhos desfeitos, em vez de procurar compreender, a partir das Escrituras, o que Deus faz. Não são elas óbvias? É a lógica de toda a história de Israel, desde o Êxodo: não há vida sem a passagem pela morte; não há libertação sem a travessia do mar; não há Terra Prometida sem a travessia do deserto. É isso que acontece também com o Messias-Cristo, de acordo com a visão do Filho do Homem (Dn 7) ou, ainda, com o Servo sofredor (Is 53). Escutando estas palavras, que explicam a Escritura, os seus corações ardiam e isso permite-lhes, depois, reconhecê-lo.


Porque se lhes abrem os olhos?

Agora, que o Desconhecido lhes explicou as Escrituras, nem pensar em deixá-lo afastar-se: «Fica connosco.» O acolhimento amigável leva-os à mesa e à partilha do pão. Depois da Liturgia da Palavra, no caminho, vem agora a Liturgia da mesa, com os quatro verbos tradicionais da Ceia e das narrativas do milagre dos pães: «Tomou... abençoou... partiu... entregou [deu]». A explicação virá mais tarde: «Jesus dera-se-lhes a conhecer ao partir do pão» (v. 35). É o primeiro nome da Ceia do Senhor (At 2,42.46). Então, «Ele torna-se invisível»: os olhos já nada têm a ver com o sacramento («o essencial é invisível aos olhos; só vemos bem com o coração», diz a Raposa ao Principezinho). Acontecerá o mesmo com Saulo, depois do choque que o deixou cego na estrada de Damasco: «Recuperou a vista, levantou-se e recebeu o Batismo. Depois de se ter alimentado, voltaram-lhe as forças» (At 9,18-19): ao Batismo suceder-se-á a Eucaristia.



Evangelho do Domingo III do Tempo Pascal (Ano A)
Lc 24, 13-35




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