Catequese sobre o Pai Nosso #04
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
A catequese de hoje refere-se ao Evangelho de Lucas. De facto, é acima de tudo este Evangelho, que conta as histórias da infância, descrevendo a figura de Cristo numa atmosfera cheia de oração. Nele estão contidos os três hinos que pontuam a oração diária da Igreja: o Benedictus, o Magnificat e o Nunc dimittis.
Nesta catequese sobre o Pai Nosso vamos para diante, vemos Jesus orando. Jesus ora. Na história de Lucas, por exemplo, o episódio da transfiguração surge de um momento de oração. Diz ele: «Enquanto orava, modificou-se o aspeto do seu rosto e as vestes tornaram-se-lhe de brancura fulgurante» (Lc 9, 29). Mas cada passo na vida de Jesus é inspirado pelo sopro do Espírito que o guia em todas as ações. Jesus reza no batismo no Jordão, fala com o Pai antes de tomar decisões importantes, muitas vezes retirando-se para a solidão a fim de orar, interceder por Pedro, que em breve o vai negar. Diz assim: «Simão, Simão, olha que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo. Mas eu roguei por ti, a fim de que a tua fé não desfaleça. » (Lc 22,31-32). Isto consola: saber que Jesus ora por nós, ora por mim, por cada um de nós, para que a nossa fé não desapareça. E isto é verdade. “Mas padre, continua a fazê-lo?” Ainda o faz agora, diante do Pai. Jesus, reza por mim. Cada um de nós pode-lhe dizer isso. E também podemos dizer a Jesus: “Tu estás orando por mim, continua a orar até que eu precise. Deste modo: corajoso.
Por fim até a morte do Messias está imersa numa atmosfera de oração, de tal modo que as horas da paixão aparecem marcadas por uma calma surpreendente: Jesus consola as mulheres, roga pelos seus executores, promete o paraíso ao ladrão, e morre a dizer: «Pai nas vossas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23, 45). A oração de Jesus aparece para suavizar as emoções mais violentas, desejos de vingança e retaliação, reconciliando o homem com o seu amargo inimigo, reconciliando o homem com este inimigo, que é a morte.
É sempre no Evangelho de Lucas que encontramos a demanda, expressa por um dos discípulos, de poder ser educados pelo próprio Jesus à oração. E diz assim: «Senhor, ensina-nos a rezar» (Lc 11, 1). Vendo-O quando rezava. "Ensina-nos - podemos também dizer ao Senhor - Senhor, tu estás orando por mim, eu sei, mas ensina-me a rezar, para que também eu possa rezar”.
A partir deste pedido - «Senhor, ensina-nos a rezar» - nasce um ensinamento bastante extenso, através do qual Jesus explica aos seus as palavras e os sentimentos com os quais se devem voltar para Deus.
A primeira parte deste ensinamento é precisamente o Pai Nosso. Orai assim” pai, que estás no céu”. “Pai”: aquela palavra tão bela de se dizer. Podemos ficar o tempo todo da oração com esta só palavra: "Pai". E sentir que temos um pai: não um mestre ou um padrasto. Não: um pai. O cristão volta-se para Deus chamando-o antes de tudo o resto de “Pai”.
Neste ensinamento que Jesus dá aos seus discípulos, é interessante insistir em algumas instruções que coroam o texto da oração. Para lhes dar confiança, Jesus explica algumas coisas. Insiste nas atitudes do crente que ora. Por exemplo, há a parábola do amigo inoportuno, que vai perturbar uma família inteira que dorme porque sem aviso veio uma pessoa de uma viagem e não tem pão para lhe oferecer. O que Jesus diz a este que bate à porta e desperta o amigo: Eu digo-vos – diz Jesus – embora não se levante para lhos dar por ser seu amigo, ao menos levantar-se-á, devido à impertinência dele, e dar-lhe-á tudo quanto precisar.» (Lc 11, 9). Com isto quer ensina-nos a rezar e a insistir na oração. E imediatamente a seguir dá o exemplo de um pai que tem um filho com fome. Todos vós, pais e avós, que estais aqui, quando o filho ou neto pede algo, ele está com fome, e pergunta e pergunta, em seguida, chora, grita, e está com fome: «Qual de vós, pais, se o filho lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra em vez do peixe?» (v. 11). E todos vós tendes a experiência de que quando a criança pede, lhe dais de comer porque vos pede, e porque lhe faz bem.
Com estas palavras, Jesus faz-nos entender que Deus responde sempre, e que nenhuma oração permanecerá por escutar, porquê? Porque Ele é um pai, e ele não esquece os seus filhos que sofrem.
É claro que estas afirmações no colocam em crise, porque muitas das nossas orações parecem não obter nenhum resultado. Quantas vezes pedimos e não obtivemos - todos experimentamos - quantas vezes batemos e encontramos uma porta fechada? Jesus insta-nos, nesses momentos, a insistir e a não desistir. A oração transforma sempre a realidade, sempre. Se as coisas não mudam ao nosso redor, pelo menos nós mudamos, mudamos o nosso coração. Jesus prometeu o dom do Espírito Santo a todo homem e a toda mulher que ora.
Podemos estar certos de que Deus responderá. A única incerteza é devida aos tempos, mas não duvidemos que Ele responderá. Talvez tenhamos que insistir por toda a vida, mas Ele responderá. Ele prometeu-nos: Ele não é como um pai que dá uma cobra em vez de um peixe. Não há nada mais certo: o desejo de felicidade que todos nós trazemos no coração um dia será cumprido. Jesus diz: «Não fará Deus justiça aos seus eleitos, que por ele clamam dia e noite?» (Lc 18, 7). Sim, ele fará justiça, ele ouvir-nos-á. Esse fia de glória e de ressurreição chegará! Orar é ao fim e ao cabo a vitória sobre a solidão e o desespero. Orar. A oração muda a realidade, não esqueçamos isto. Ou muda as coisas ou muda os nossos corações, mas muda sempre. Orar é agora a vitória sobre a solidão e o desespero. É como ver todos os fragmentos da criação fervilhando no torpor de uma história que às vezes não entendemos o porquê. Mas está a mover-se, está a caminho e, no final de cada rua, o que estará no fim da nossa estrada? No final da oração, no final de um tempo em que estamos a orar, no final da vida: o que há? Há um pai que espera tudo e espera todos com os braços abertos. Nós olhamos para este Pai.
Catequese do Papa Francisco
9 de Janeiro de 2019
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