Felicidade para os pobres




Mateus 5,1-16

Ao ver a multidão, Jesus subiu a um monte. 
Depois de se ter sentado, os discípulos 
aproximaram-se dele. Então tomou a 
palavra e começou a ensiná-los, dizendo:
«Felizes os pobres em espírito,
porque deles é o Reino do Céu.
Felizes os que choram,
porque serão consolados.
Felizes os mansos,
porque possuirão a terra.
Felizes os que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados.
Felizes os misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia.
Felizes os puros de coração,
porque verão a Deus.
Felizes os pacificadores,
porque serão chamados filhos de Deus.
Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça,
porque deles é o Reino do Céu.
Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa no Céu; pois também assim perseguiram os profetas que vos precederam.
Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens.
Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu.»

De onde vem este texto?

Jesus começa a falar em público, nas cidades da Galileia. Anuncia que a vinda do Reino de Deus está próxima e que é urgente colocar a nossa vida sob a luz de Deus. Mateus agrupou diversos ensinamentos de Jesus num grande discurso inaugural: o Sermão da Montanha (Mt 5-7).

O enquadramento é solene, e é impossível não pensar em Moisés, que, também ele, recebera a Lei de Deus na montanha do Sinai, e que, depois, a ensinara a Israel. Para Mateus, Jesus é o novo Moisés. Ou melhor, Ele é a Lei de Deus viva. A sua maneira de viver mostra o caminho da verdadeira felicidade, sobretudo quando a vida não é fácil.


As Bem-Aventuranças

Que Jesus encoraje os seus discípulos a ser mansos (não violentos), misericordiosos, a ter um coração puro, a ser artesãos da paz, estamos de acordo: são virtudes, são qualidades que nos fazem parecer com Ele. Mas, como é que Ele pode declarar felizes aqueles que sofrem? Sentir falta do necessário, chorar, ter fome e sede, ser perseguidos, é viver na infelicidade! De facto, ambas as coisas estão muitas vezes ligadas: para se ter um coração de pobre é preciso ter conhecido o sofrimento. Ele Faz-nos descobrir os nossos limites, a nossa dependência de Deus; ele impede-nos de nos acharmos superiores aos outros e de ser duros para com eles. Jesus felicita aqueles que já fizeram estas experiências: eles estão no bom caminho, o seu.
As bem-aventuranças desenham o retrato de Jesus.


As perseguições

A nona bem-aventurança visa tudo o que podemos vir a ter que enfrentar, devido à nossa fé: desde as pequenas contrariedades até às injustiças. Hoje, em diversos países do mundo, há cristãos que suportam tudo isso. Foi também esse o caminho dos profetas, como Jeremias. É o caminho da cruz: «Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me» (Mc 8,34).
É impossível amar sem correr o risco de sofrer: é uma experiência humana comum.
Mas, para nós, discípulos, é sinal de que estamos no caminho de Cristo: aquele que passa pelo Calvário e leva à ressurreição.


Sal e Luz

Antes de haver frigoríficos, só o sal permitia conservar certos alimentos. Impedir e decomposição do que é belo e bom, é a nossa tarefa de discípulos. Assim como a de dar sabor à vida quotidiana, no nosso ambiente.
Os não crentes censuram-nos, por vezes, de não sermos fiéis ao Evangelho; e talvez não estejam errados! 
Muita gente, crente ou não, espera de nós uma presença, uma solidariedade, reações, conselhos para enfrentar dificuldades. O Espírito Santo inspira-nos para que possamos esclarecer aqueles que testemunham a nossa vida.
A felicidade de viver com Cristo e a capacidade de contar com Ele, é, para nós, sal e luz e, portanto, também para os outros.



Felizes
No Antigo Testamento, os sábios de Israel felicitam assim (45 vezes) aqueles que vivem com Deus, que procuram assemelhar-se-lhe. Jesus emprega esta expressão uma dúzia de vezes (ex. Mt 13,16). Entre outros, ele felicita Pedro (ex. Mt 13, 16), Maria e todos os discípulos (Lc 11,27-28).

Pobres
Esta palavra tem um duplo sentido na Bíblia: umas vezes significa pobreza material, carência, e, outras, pobreza espiritual, o facto de se depender de Deus.
É, simultaneamente, uma situação social e uma atitude espiritual de confiança e abandono a Deus.

Justiça
Para Mateus, esta palavra tem um sentido muito mais lato do que para nós. Ela exprime a "relação justa" com Deus, o ato de se "ajustar" ao seu Espírito, a fidelidade à sua vontade. Esta relação verdadeira com Deus leva, necessariamente, à justiça social: às relações justas com os outros.

Reino do Céu
Desde os profetas, a grande esperança de Israel é que Deus estabeleça o seu reino; que a sua presença seja reconhecida pelos homens e que lhes traga paz, segurança, concórdia e felicidade. É este Reino de Deus que Jesus vem inaugurar.



Philippe Gruson
in Ler e rezar a Bíblia
Edições Paulinas



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