Síntese do Sínodo 2024
Foto: Octávio Carmo, Agência ECCLESIA |
O Sínodo de 2024 em Roma foi um desses encontros raros em que a Igreja, tantas vezes inclinada à tradição e ao peso do passado, ousou um olhar profundo sobre si mesma. Imaginemos: homens e mulheres de várias partes do mundo, religiosos e leigos, sentados na mesma sala, cada um trazendo na bagagem os rostos, as vozes, as dores e as esperanças do povo que representam. Não se tratava de uma reunião para definir regras, mas de um espaço de escuta mútua, de diálogo sincero, onde cada história contada pesava na alma dos presentes.
Havia perguntas urgentes no ar, questões que, se ignoradas, poderiam condenar a Igreja a afastar-se ainda mais do coração humano, mas que, se acolhidas, poderiam abrir uma nova era de proximidade e compaixão. No centro do sínodo estava o desejo de construir uma Igreja mais sinodal, que não só fala mas também ouve, que não só ensina mas também aprende. O Papa Francisco, sempre atento aos excluídos, destacou a importância de uma Igreja que inclua as periferias, que abrace os que estão fora, sem medo de questionar as próprias fronteiras.
Entre os temas debatidos, alguns tocaram diretamente o futuro da Igreja: o papel das mulheres, os desafios do celibato, a integração dos divorciados, o acolhimento das pessoas LGBTQ+. Foram discussões intensas, e cada uma dessas questões carregava o peso de muitas vidas, de muitos anseios guardados em silêncio. O sínodo não pretendia chegar a todas as respostas, mas abrir as portas para um diálogo que, com honestidade, ajude a Igreja a refletir sobre quem deseja ser daqui em diante.
Foto: Octávio Carmo, Agência ECCLESIA |
O que fica, no final deste sínodo, é um convite a que cada um de nós, como povo de Deus, descubra um novo modo de caminhar em conjunto. E é neste caminhar que se renova a esperança de uma Igreja mais aberta, mais humilde, uma Igreja que não tenha medo de se converter para estar mais perto dos que sofrem, dos que procuram algo, dos que não encontraram ainda o seu lugar. O sínodo deixa-nos com uma certeza silenciosa, uma inquietude fértil: a de que a Igreja, se quiser permanecer viva, deve ser um espaço onde caibam todos, todos, todos! Onde o amor de Cristo possa ser visto, sem barreiras, sem reservas. É uma promessa de futuro, ainda incerta, mas que começa a desenhar-se no coração de cada um.
Manuel Sampaio
Catequese e Família
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