Advento




O Advento é esse tempo em que se suspende a respiração, em que o silêncio da espera é mais alto que qualquer som. Para nós, católicos, é mais do que um calendário, mais do que as luzes e os enfeites. O Advento é uma peregrinação para dentro de nós, uma estrada que, se tivermos coragem, nos leva ao mistério de Deus que se faz próximo.

Este tempo é um convite, e talvez um desafio: parar, estar, sentir. No Advento, somos chamados a encontrar Deus nas pequenas frestas do nosso dia a dia, nos instantes fugidios em que o coração descansa ou o olhar se perde, em que uma palavra ou um gesto nos lembra que há algo mais – algo maior – que teima em insistir. E este algo maior é Deus a aproximar-se de nós, a tornar-se real, palpável, frágil. Porque o que se espera, no final da jornada, é um menino, e é tão desarmante quanto possível que o Todo-Poderoso se revele num bebé sem defesas.

O Advento recorda-nos que esperar é uma arte, uma rendição. E numa sociedade apressada, que quer tudo para já, o Advento chama-nos a viver com a paciência dos que sabem que o essencial só chega quando estamos prontos a recebê-lo. Como uma semente que precisa de tempo para germinar, como uma árvore que demora a dar fruto, o amor de Deus em nós pede cuidado, tempo, um coração preparado para a colheita. É um apelo a parar o ruído e a ouvir o que em nós se inquieta, o que em nós ainda espera, o que precisa da luz divina para crescer e se fazer novo.

No Advento, tornamo-nos como Maria: aprendemos a dizer sim ao que ainda não vemos, a acreditar antes que tudo faça sentido. Como Maria, carregamos no peito a esperança de um mundo salvo, mas enfrentamos as dúvidas, o silêncio, as perguntas. E como Maria, somos chamados a guardar este mistério no coração, a acolher o que é maior do que nós, e que, no entanto, quer habitar o mais pequeno do nosso ser.

É este, afinal, o convite do Advento: acolher o Emanuel, o Deus que é connosco, o Deus que não se contenta com o alto dos céus e se faz carne e proximidade. Este é o tempo de perceber que Ele vem – e não vem só para os fortes, nem para os que já venceram. Vem para os fracos, para os que têm medo, para os que se perdem nas próprias perguntas e nas próprias sombras. Vem para iluminar o que em nós ainda não tem respostas, para transformar o que em nós ainda resiste.

O Advento é mais do que uma espera: é um encontro. E é aqui, onde estamos, na nossa humanidade concreta e imperfeita, que Ele escolhe nascer. Que possamos, então, viver este tempo com a ousadia de quem espera o impossível, de quem acredita que, ao fundo de toda a noite, há uma estrela que brilha e que não deixará nunca de nos conduzir.


Natália Matos
Catequese e Família




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