Orgulho (3.º Domingo da Quaresma)


O Terceiro Domingo da Quaresma (Ano A) está em sintonia com o primeiro escrutínio dos catecúmenos (adultos que se prepararam para celebrar os Sacramentos da Iniciação Cristã: Baptismo, Confirmação e Eucaristia). No livro do Êxodo (primeira leitura), Deus vem em auxílio do seu povo, no deserto: faz jorrar água do rochedo. Depois, nas palavras de Paulo (segunda leitura), esse auxílio divino exprime-se como graça derramada nos corações. E, em Jesus Cristo, é apresentado como dom revelado à Samaritana (evangelho), o mesmo que recebemos no Baptismo. Neste momento, como está o nosso coração (salmo): aberto ou fechado a esse dom?


“Se conhecesses o dom de Deus…”
Neste e nos próximos Domingos são proclamadas três páginas do evangelho segundo João que, desde a mais antiga tradição, fazem parte do itinerário da Iniciação Cristã, razão pela qual se faz uma pausa no evangelho segundo Mateus: são três momentos caracterizados pelos sinais da água, da luz e da vida. O primeiro deles está patente no encontro com a Samaritana, junto ao poço de Sicar.
Se conhecesses… No diálogo entre Jesus Cristo e a mulher, o evangelista resume a mensagem cristã. Quando o horizonte vital daquela mulher se esgota no lugar aonde frequentemente ia buscar a água, Jesus Cristo dá-lhe a conhecer uma outra fonte e uma outra água.
… o dom de Deus. A fonte da qual brota “água viva” não é uma lei ou doutrina religiosa que se promulga ou revoga. É Jesus Cristo, a quem somos convidados a escutar, com quem podemos estabelecer um diálogo essencial para a vida.
Nele está o “dom de Deus” para saciar a nossa sede. Hoje, o dom de Deus é continuamente oferecido nos Sacramentos, em especial na Eucaristia, na qual temos a possibilidade de beber da fonte de onde jorra o mistério pascal de Jesus Cristo, centro da nossa fé.
Essa outra água prometida por Jesus Cristo pode ser identificada com o Espírito Santo que faz nascer naquela mulher, e em nós, o dom da fé. Jesus Cristo é o rosto de Deus entre nós, a Palavra de Deus que desce ao coração, através do qual podemos chegar ao Pai, graças à acção do Espírito Santo. Neste sentido, a Quaresma surge como um “tempo favorável para nos renovarmos, encontrando Cristo vivo na sua Palavra, nos Sacramentos e no próximo” (Francisco, Mensagem para a Quaresma de 2017).


Orgulho
O outro, tal como a Palavra, é também um dom. Contudo, em ambos os casos, nem sempre estamos receptivos a esses dons. Isso acontece, nomeadamente, quando nos deixamos dominar pelo orgulho. O papa Francisco apresenta-o como o “degrau mais baixo” da “deterioração moral” a que pode chegar o ser humano.
E, na Mensagem para esta Quaresma, acrescenta que, para quem assim procede, “nada mais existe além do próprio eu e, por isso, as pessoas que o rodeiam não caiem sob a alçada do seu olhar”. Para acolher a Palavra como dom e o outro como dom, preciso de me libertar da cegueira do pecado do orgulho, assim reza Maria no seu (e queira Deus seja também nosso) Magnificat: Deus dispersa os soberbos e exalta os humildes.

Reflexão preparada por Laboratório da Fé

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