Esquecimento de Deus (1.º Domingo da Quaresma)


A tentação não é uma coisa do passado, mas um combate quotidiano. Quando é mais forte do que a nossa resistência, faz-nos mergulhar no pecado, afasta-nos de Deus. No Primeiro Domingo da Quaresma (Ano A), a Liturgia da Palavra quer fortalecer os nossos corações, consolidar a nossa fé. Não nos deixemos levar pela habilidade e a sedução da “serpente” (primeira leitura) que continua a
aproximar-se de nós para nos afastar de Deus ou da Igreja. Tomemos consciência da existência do pecado e da sua gravidade (salmo), no plano pessoal e colectivo, e dêmos graças a Deus pela nossa salvação em Jesus Cristo (segunda leitura).
Ele jamais cedeu às tentações do Diabo (evangelho). Ele é, por nós, vitorioso!


“Nem só de pão vive o homem, 
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”

“Nem só de pão vive o homem…”. As coisas materiais não são suficientes para alimentar a nossa condição humana e dar-lhe pleno sentido. Certo é que Jesus Cristo não diz para desprezar o alimento ou qualquer outra dimensão material.
Aliás, o cristão tem, entre outras, a responsabilidade de “dar de comer a quem tem fome”, sem descurar a sua própria sobrevivência. O que está na “tentação” é o fixar-se apenas na dimensão material. É nesta perspectiva que se insere a penitência quaresmal: o jejum abre espaço ao encontro com o essencial.
“… mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. O cristão centra-se no essencial: o próprio Deus. “A Palavra de Deus é uma força viva, capaz de suscitar a conversão no coração dos homens e orientar de novo a pessoa para Deus”, lembra o Papa na mensagem quaresmal. A Quaresma afigura-se como uma preparação para receber a vida nova oferecida por Deus através da morte e ressurreição de
Jesus Cristo (mistério pascal). Alcançar uma “maior compreensão do mistério de Cristo” (oração coleta) é a aspiração que impulsiona o caminho da Quaresma.
É por isso que depois da oração do Pai nosso, na preparação da comunhão, aquele que preside pede que “sejamos sempre livres do pecado e de toda a perturbação”, ajudados pela misericórdia divina. A graça baptismal, que vai ser recordada ao longo do itinerário quaresmal, não anula a nossa debilidade nem faz desaparecer por completo a inclinação para o pecado. Contudo, dá-nos capacidade para
enfrentar com serenidade e fortaleza as provações de cada dia, quando nos deixamos conduzir pelo Espírito Santo e nos alimentamos de “toda a palavra que sai da boca de Deus” (tomando o exemplo de Jesus Cristo e de Maria).




Penitência: esquecimento de Deus

A Quaresma é um tempo terapêutico, uma espécie de tratamento homeopático.
Não é um tempo triste e desolador. É um tempo profundo, um tempo que privilegia a privação em sentido positivo: permite a purificação, a eliminação das “toxinas” espirituais. A isto chamamos penitência ou conversão. A Quaresma é um tempo favorável para recentrar a vida, lutar contra o esquecimento de Deus, deixar-se guiar pelo Espírito Santo, redescobrir o “dom da Palavra de Deus”
(cf. Francisco, Mensagem para a Quaresma de 2017).


Reflexão preparada por Laboratório da Fé


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