Catequese sobre a Santa Missa #05
Hoje gostaria de entrar no vivo da celebração eucarística. A Missa é composta por duas partes, que são a Liturgia da Palavra e a Liturgia eucarística, tão estreitamente unidas entre si, a ponto de formar um único ato de culto (cf. Sacrosanctum concilium, 56; Ordenamento Geral do Missal Romano, 28). Portanto, introduzida por alguns ritos preparatórios e concluída por outros, a celebração é um único corpo e que não se pode separar, mas para uma melhor compreensão procurarei explicar os seus vários momentos, cada um dos quais é capaz de tocar e abranger uma dimensão da nossa humanidade. É necessário conhecer estes santos sinais para viver plenamente a Missa e apreciar toda a sua beleza.
Quando o povo está reunido, a celebração abre-se com os ritos introdutórios, que incluem a entrada dos celebrantes ou do celebrante, a saudação — “O Senhor esteja convosco”, “A paz esteja convosco” — o ato penitencial — “Confesso”, no qual nós pedimos perdão pelos nossos pecados — o Kyrie eleison, o hino do Glória e a oração da coleta: chama-se “oração da coleta” não porque ali se faz a coleta das ofertas: é a coleta das intenções de oração de todos os povos; e aquela coleta da intenção dos povos eleva-se ao céu como prece. A sua finalidade — destes ritos introdutórios — é fazer com «que os fiéis reunidos formem uma comunidade e se predisponham a ouvir com fé a palavra de Deus e a celebrar dignamente a Eucaristia» (Ordenamento Geral do Missal Romano, 46). Não é um bom hábito olhar para o relógio e dizer: “Estou a tempo, chego depois do sermão e assim cumpro o preceito”. A Missa começa com o sinal da cruz, com estes ritos introdutórios, porque ali começamos a adorar Deus como comunidade. E por isso é importante procurar não chegar atrasado mas, ao contrário, antecipadamente, a fim de preparar o coração para este rito, para esta celebração da comunidade.
Geralmente, enquanto se executa o cântico de entrada, o sacerdote com os outros ministros chega processionalmente ao presbitério, e aqui saúda o altar com uma inclinação e, em sinal de veneração, beija-o e, quando há incenso, incensa-o. Porquê? Porque o altar é Cristo: é figura de Cristo. Quando fitamos o altar, olhamos precisamente para onde está Cristo. O altar é Cristo. Estes gestos, que correm o risco de passar despercebidos, são muito significativos, porque exprimem desde o início que a Missa é um encontro de amor com Cristo o qual , «oferecendo o seu corpo na cruz [...] se tornou altar, vítima e sacerdote» (Prefácio pascalV). Com efeito, sendo sinal de Cristo, o altar «é o centro da ação de graças que se realiza com a Eucaristia» (Ordenamento Geral do Missal Romano, 296), e toda a comunidade em volta do altar, que é Cristo; não para olhar na cara, mas para fitar Cristo, porque Cristo está no centro da comunidade e não longe dela.
Depois há o sinal da cruz. O sacerdote que preside faz o sinal e de igual modo o fazem todos os membros da assembleia, conscientes de que o ato litúrgico se realiza «em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo». E aqui passo para outro tema muito pequeno. Vistes como as crianças fazem o sinal da cruz? Não sabem o que fazem: às vezes fazem um desenho, que não é o sinal da cruz. Por favor: mãe e pai, avós, ensinai às crianças, desde o início — desde pequeninos — a fazer bem o sinal da cruz. E explicai-lhes que significa ter a cruz de Jesus como proteção. E a Missa começa com o sinal da cruz. A oração inteira move-se, por assim dizer, no espaço da Santíssima Trindade — “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” — que é espaço de comunhão infinita; tem como origem e fim o amor de Deus Uno e Trino, manifestado e doado a nós na Cruz de Cristo. Com efeito, o seu mistério pascal é dom da Trindade, e a Eucaristia brota sempre do seu Coração trespassado. Portanto, fazendo o sinal da cruz, não só recordamos o nosso Batismo, mas afirmamos que a prece litúrgica é o encontro com Deus em Jesus Cristo, que por nós se encarnou, morreu na cruz e ressuscitou glorioso.
Em seguida, o sacerdote dirige a saudação litúrgica, com a expressão: «O Senhor esteja convosco», ou outra semelhante — existem diversas — e a assembleia responde: «E com o teu espírito». Estamos em diálogo; estamos no início da Missa e temos que pensar no significado de todos estes gestos e palavras. Entramos numa “sinfonia”, na qual ressoam vários tons de vozes, e inclusive momentos de silêncio, em vista de criar o “acordo” entre todos os participantes, ou seja, de nos reconhecermos animados por um único Espírito e por um mesmo fim. Com efeito, «a saudação sacerdotal e a resposta do povo manifestam o mistério da Igreja congregada» (Ordenamento Geral do Missal Romano, 50). Exprime-se assim a fé comum e o desejo recíproco de estar com o Senhor e de viver a unidade com a humanidade inteira.
Esta é uma sinfonia orante, que se vai criando e apresenta imediatamente um momento muito comovedor, pois quem preside convida todos a reconhecer os próprios pecados. Todos somos pecadores. Não sei, talvez algum de vós não seja pecador... Se alguém não é pecador, levante a mão, por favor, assim todos veremos. Mas não há mãos levantadas, está bem: tendes uma boa fé! Todos somos pecadores; é por isso que no início da Missa pedimos perdão. É o ato penitencial. Não se trata apenas de pensar nos pecados cometidos, mas muito mais: é o convite a confessar-nos pecadores diante de Deus e da comunidade, perante os irmãos, com humildade e sinceridade, como o publicado no templo. Se verdadeiramente a Eucaristia torna presente o Mistério pascal, ou seja, a passagem de Cristo da morte para a vida, então a primeira coisa que devemos fazer é reconhecer quais são as nossas situações de morte para poder ressuscitar com Ele para a nova vida. Isto leva-nos a compreender como é importante o ato penitencial. E por isso retomaremos este tema na próxima catequese.
Vamos passo a passo na explicação da Missa. Mas recomendo-vos: por favor, ensinai bem as crianças a fazer o sinal da cruz!
Catequese do Papa Francisco
20 de dezembro de 2017
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