Catequese sobre o Pai Nosso #02


Prossigamos o caminho de catequeses sobre o “Pai-Nosso”, iniciado na semana passada. Jesus põe nos lábios dos seus discípulos uma prece breve, audaz, formada por sete pedidos — um número que na Bíblia não é casual, indica plenitude. Digo audaz, porque se Cristo não a tivesse sugerido, provavelmente nenhum de nós — aliás, nenhum dos teólogos mais famosos! — ousaria rezar a Deus desta maneira.
Com efeito, Jesus convida os seus discípulos a aproximar-se de Deus e a fazer-lhe com confidência alguns pedidos: antes de tudo em relação a Ele e depois em relação a nós. Não há prefácios no “Pai-Nosso”. Jesus não ensina fórmulas para “adular” o Senhor, aliás, convida a pedir-lhe abatendo as barreiras da reverência e do medo. Não diz para se dirigir a Deus chamando-lhe “Omnipotente”, “Altíssimo”, “Tu, que estás tão distante de nós, eu sou miserável”: não, não diz assim, mas simplesmente “Pai”, com toda a simplicidade, como as crianças se dirigem ao pai. E esta palavra “Pai", expressa a confidência e a confiança filial.
A oração do “Pai-Nosso” afunda as suas raízes na realidade concreta do homem. Por exemplo, faz-nos pedir o pão de cada dia: pedido simples mas essencial, o qual diz que a fé não é uma questão “decorativa”, separada da vida, que intervém quando todas as outras necessidades foram satisfeitas. No máximo, a oração começa com a própria vida. A prece — ensina-nos Jesus — não começa na existência humana quando o estômago está cheio: ao contrário, existe onde quer que haja um homem, um homem qualquer que tem fome, que chora, que luta, que sofre e se pergunta “porquê”. A nossa primeira prece, num certo sentido, foi o gemido que acompanhou o primeiro respiro. Naquele choro de recém-nascido anunciava-se o destino de toda a nossa vida: a nossa fome contínua, a nossa sede perene, a nossa busca de felicidade.
Jesus, na oração, não quer apagar o humano, não o quer anestesiar. Não quer que moderemos as perguntas nem os pedidos aprendendo a suportar tudo. Ao contrário, quer que cada sofrimento, qualquer preocupação, se projete rumo ao céu e se torne diálogo.
Ter fé, dizia uma pessoa, significa acostumar-se ao brado.
Todos deveríamos ser como o Bartimeu do Evangelho (cf. Mc 10, 46-52) — recordemos aquele excerto do Evangelho, Bartimeu, o filho de Timeu — aquele homem cego que mendigava às portas de Jericó. Tinha à sua volta tantas pessoas bondosas que lhe impunham o silêncio: “Cala-te! O Senhor passa. Cala-te. Não incomodes. O Mestre tem muitas coisas a fazer; não o aborreças. Tu importunas com os teus gritos. Não perturbes”. Mas ele não ouvia aqueles conselhos: com santa insistência, pretendia que a sua mísera condição pudesse finalmente encontrar Jesus. E bradava mais alto! E as pessoas educadas: “Não, é o Mestre, por favor! Ficas mal visto!”. E ele bradava porque queria ver, queria ser curado: «Jesus, tem piedade de mim!» (v. 47). Jesus restitui-lhe a vista e diz-lhe: «A tua fé te salvou» (v. 52), como que para explicar que o mais decisivo para a sua cura foi aquela prece, aquela invocação bradada com fé, mais forte que o “bom senso” de muitas pessoas que queriam que ele se calasse. A oração não só precede a salvação, mas de certa forma já a contém, pois liberta do desespero de quem não acredita numa saída para tantas situações insuportáveis.
Depois, certamente, os crentes sentem também a necessidade de louvar a Deus. Os evangelhos contêm a exclamação de júbilo que promana do Coração de Jesus, cheio de grata admiração pelo Pai (cf. Mt 11, 25-27). Os primeiros cristãos sentiram até a exigência de acrescentar ao texto do “Pai-Nosso” uma doxologia: «Porque teu é o poder e a glória nos séculos» (Didaqué, 8, 2).
Mas nenhum de nós é obrigado a aceitar a teoria que no passado alguém propôs, isto é, que a oração de pedido seja uma forma tíbia da fé, enquanto que a oração mais autêntica seria o louvor puro, aquele que procura Deus sem o peso de pedido algum. Não, isto não é verdade. A prece de pedido é autêntica, espontânea, é um ato de fé em Deus que é Pai, que é bom, omnipotente. Trata-se de um ato de fé em mim, que sou pequenino, pecador, necessitado. E por isso a oração para pedir algo é muito nobre. Deus é o Pai que tem imensa compaixão por nós, e deseja que os seus filhos lhe falem sem medo, chamando-lhe diretamente “Pai”; ou nas dificuldades dizendo: “Mas Senhor, o que me fizeste?”. Por isso podemos contar-lhe tudo, até aquilo que na nossa vida permanece distorcido e incompreensível. E prometeu-nos que teria ficado connosco para sempre, até ao último dia que vivermos nesta terra. Rezemos o Pai-Nosso, começando assim, simplesmente: “Pai” ou “Papá”. E Ele compreende-nos e ama-nos muito.

Catequese do Papa Francisco
12 de Dezembro de 2018



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