Catequese sobre o Pai Nosso #12
Queridos irmãos e irmãs, bom dia! O dia não está assim tão belo, mas que seja um bom dia mesmo assim!
Depois de pedir a Deus pelo pão de todos os dias, a oração do "Pai Nosso" entra no campo das nossas relações com os outros. E Jesus ensina-nos a pedir ao Pai: «Perdoa-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido» (Mt 6,12). Como precisamos de pão, do mesmo modo precisamos de perdão. E isto todos os dias.
O cristão que ora pede a Deus antes de mais pelas suas ofensas, isto é, dos seus pecados, as coisas más que faz. Esta é a primeira verdade de toda a oração: ainda que fossemos pessoas perfeitas, ainda que nos considerássemos santos cristalinos que nunca se desviaram de uma vida de bem, permanecemos sempre como filhos que devemos tudo ao Pai. Qual é a atitude mais perigosa de toda vida cristã? É o orgulho. É a atitude daqueles que estão diante de Deus pensando que eles têm sempre as contas em ordem com Ele: os orgulhosos acreditam que tem tudo no seu devido lugar. Como aquele fariseu da parábola, que no templo pensa estar a orar quando, na verdade, apenas está a fazer um autoelogio diante de Deus: “Agradeço-te, Senhor, porque não sou como os demais”. E as pessoas que se sentem perfeitas, as pessoas que criticam os outros, são pessoas orgulhosas. Nenhum de nós é perfeito, ninguém. Pelo contrário, o publicano, que estava lá atrás, no templo, um pecador desprezado por todos, detém-se no limiar do templo, não se sente digno de entrar, e entrega-se à misericórdia de Deus. E Jesus comenta: «Este, ao contrário do outro, volta para casa justificado» (Lucas 18,14), o mesmo é dizer perdoado, salvo. Porquê? Porque não estava ali orgulhoso, porque reconheceu as suas limitações e os seus pecados.
Há pecados que são vistos e pecados que não são vistos. Há pecados gritantes que fazem barulho, mas também há pecados desonestos, que se escondem no coração sem que nos apercebamos disso. O pior deles é a arrogância que pode infetar até pessoas que vivem uma intensa vida religiosa. Era uma vez um convento de freiras, no ano 1600-1700, famoso, na época do jansenismo: elas eram perfeitas e dizia-se que eram tão puras quanto os anjos, mas soberbas como os demónios. É uma coisa má. O pecado divide a fraternidade, o pecado faz-nos presumir que somos melhores que os outros, o pecado faz-nos acreditar que somos semelhantes a Deus.
Diante de Deus somos todos pecadores e temos razão para bater no nosso peito - todos! - como aquele publicano no templo. São João, na sua primeira carta, escreve: «Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós» (1 João 1, 8). Se te quiseres enganar a ti mesmo, convence-te que não pecaste: desde modo estás enganado.
Somos devedores, antes de mais, porque nesta vida recebemos muito: a existência, um pai e uma mãe, da amizade, das maravilhas da criação ... Mesmo que todos passemos por dias difíceis, devemos sempre lembrarmo-nos que a vida é uma graça, é o milagre que Deus extraiu do nada.
Em segundo lugar, estamos endividados porque, mesmo que tenhamos sucesso no amar, nenhum de nós é capaz de fazê-lo somente com a sua própria força. O verdadeiro amor dá-se quando podemos amar, mas com a graça de Deus, por que nenhum de nós brilha com a sua própria luz. Há o que os antigos teólogos chamavam de "mysterium lunae" não apenas na identidade da Igreja, mas também na história de cada um de nós. O que significa este "mysterium lunae"? Que é como a lua, que não tem luz própria: reflete a luz do sol. Nós também não temos luz própria: a luz que temos é um reflexo da graça de Deus, da luz de Deus. Se amas é porque alguém, fora de ti, sorriu para ti quando eras criança, ensinando-te a responder com um sorriso. Se tu amas, é porque alguém próximo de ti te despertou para o amor, fazendo com que tu entendesses como nele reside o sentido da existência.
Tentemos escutar a história de uma pessoa que cometeu um erro: um prisioneiro, um condenado, um viciado em drogas ... nós conhecemos tantas pessoas que cometem erros na vida. Sem prejuízo da responsabilidade, que é sempre pessoal, às vezes pergunta-se quem deve ser culpado pelos seus erros, se apenas a sua consciência, ou a história de ódio e abandono que alguém carrega consigo.
E este é o mistério da lua: antes de tudo, amamos porque fomos amados, perdoamos porque fomos perdoados. E se alguém não foi iluminado pela luz do sol, torna-se tão frio quanto o terreno de inverno.
Como podemos deixar de reconhecer, na cadeia de amor que nos precede, também a presença previdente do amor de Deus? Nenhum de nós ama a Deus como Ele nos amou. Basta ficar diante de um crucifixo para compreender a desproporção: Ele amou-nos e ama-nos primeiro.
Rezemos, pois: Senhor, até o mais santo entre nós não deixa de ser teu devedor. Ó Pai, tem piedade de todos nós!
Catequese do Papa Francisco
10 de Abril de 2019
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