Catequese sobre o Pai Nosso #14


Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Prosseguimos a catequese sobre o “Pai-Nosso”, chegando hoje à penúltima invocação: «Não nos abandones à tentação» [versão em italiano]. Outra versão diz: «Não nos deixeis cair em tentação» (Mt 6, 13). O “Pai-Nosso” começa de maneira serena: faz-nos desejar que o grande projeto de Deus se possa realizar no meio de nós. Depois lança um olhar à vida, e faz-nos pedir aquilo de que precisamos todos os dias: o “pão de cada dia”. Em seguida, a oração concentra-se nas nossas relações interpessoais, muitas vezes poluídas pelo egoísmo: pedimos o perdão e comprometemo-nos a concedê-lo. Mas é com esta última invocação que o nosso diálogo com o Pai celeste entra, por assim dizer, vai ao cerne do drama, ou seja, ao âmbito do confronto entre a nossa liberdade e as ciladas do maligno.

Como se sabe, a expressão original grega contida nos Evangelhos é difícil de traduzir de maneira exata, e todas as traduções modernas são um pouco imprecisas. Mas sobre um elemento podemos convergir de maneira unânime: seja qual for a interpretação do texto, devemos excluir que é Deus o protagonista das tentações que ameaçam o caminho do homem. Como se Deus estivesse emboscado para armar ciladas e armadilhas aos seus filhos. Uma interpretação deste género antes de tudo está em contraste com o próprio texto, e longe da imagem de Deus que Jesus nos revelou. Não esqueçamos: o “Pai-Nosso” começa com “Pai”. E um pai não arma ciladas aos filhos. Os cristãos não têm que lidar com um Deus invejoso, em competição com o homem, ou que se diverte a pô-lo à prova. Estas são as imagens de tantas divindades pagãs. Lemos na Carta de Tiago apóstolo: «Ninguém diga, quando for tentado pelo mal: “É Deus que me tenta”. Porque Deus não é tentado pelo mal, nem tenta ninguém» (1, 13). No máximo é o contrário: o Pai não é o autor do mal, a nenhum filho que pede um peixe ele dá uma serpente (cf. Lc 11, 11) — como ensina Jesus — e quando o mal se insinua na vida do homem, combate ao seu lado, para que possa ser libertado. Um Deus que combate sempre por nós, não contra nós. É o Pai! É neste sentido que rezamos o “Pai-Nosso”.

Estes dois momentos — a prova e a tentação — estiveram misteriosamente presentes na vida de Jesus. Nesta experiência o Filho de Deus fez-se completamente nosso irmão, duma maneira que chega quase ao escândalo. E são precisamente estes excertos evangélicos que nos demonstram que as invocações mais difíceis do “Pai-Nosso”, aquelas que encerram o texto, já foram ouvidas: Deus não nos deixou sozinhos, mas em Jesus Ele manifesta-se como o “Deus-connosco” até às extremas consequências. Está connosco quando nos dá a vida, está connosco durante a vida, está connosco na alegria, está connosco nas provações, está connosco nas tristezas, está connosco nas derrotas, quando pecamos, mas está sempre connosco, porque é Pai e não nos pode abandonar.

Se formos tentados a praticar o mal, negando a fraternidade com os outros e desejando um poder absoluto sobre tudo e sobre todos, Jesus já combateu por nós esta tentação: confirmam-no as primeiras páginas dos Evangelhos. Logo depois de ter recebido o batismo pelas mãos de João, no meio da multidão dos pecadores, Jesus retira-se no deserto e é tentado por Satanás. Começa assim a vida pública de Jesus, com as tentações que vêm de Satanás. Satanás estava presente. Muitas pessoas dizem: “mas por que falar do diabo que é uma coisa antiga? O diabo não existe”. Repara no que te ensina o Evangelho: Jesus confrontou-se com o diabo, foi tentado por Satanás. Mas Jesus afasta qualquer tentação e sai vitorioso. O Evangelho de Mateus tem um aspeto interessante que encerra o duelo entre Jesus e o Inimigo: «Então, o diabo deixou-o e chegaram os anjos e serviram-no» (4, 11).
Mas também no tempo da provação suprema Deus não nos deixa sozinhos. Quando Jesus se retira para rezar no Getsémani, o seu coração é invadido por uma angústia indescritível — assim diz aos discípulos — e Ele experimenta a solidão e o abandono. Sozinho, com a responsabilidade de todos os pecados do mundo sobre os ombros; sozinho, com uma angústia inenarrável. A provação é tão dilacerante que acontece algo inesperado. Jesus nunca mendiga amor para si mesmo, contudo naquela noite sente a sua alma triste até à morte, e então pede a proximidade dos seus amigos: «ficai aqui e vigiai comigo» (Mt 26, 38). Como sabemos, os discípulos, sobrecarregados por um entorpecimento causado pelo medo, adormeceram. No tempo da agonia, Deus pede ao homem que não o abandone, e ao contrário o homem dorme. No tempo em que o homem conhece a sua provação, Deus vigia. Nos momentos mais difíceis da nossa vida, nos momentos de mais sofrimento, nos momentos mais angustiantes, Deus vigia connosco, Deus luta connosco, está sempre próximo de nós. Porquê? Porque é Pai. Começámos assim a oração: “Pai-Nosso”. E um pai não abandona os seus filhos. Aquela noite de dor e de luta são para Jesus o último selo da Encarnação: Deus desce para se encontrar connosco nos nossos abismos e nas aflições que constelam a história.

É o nosso conforto na hora da provação: saber que aquele vale, desde quando Jesus o atravessou, já não está desolado, mas está abençoado pela presença do Filho de Deus. Ele nunca nos abandonará!
Por conseguinte, ó Deus, afasta de nós o tempo da provação e da tentação. Mas quando chegar para nós este tempo, Pai nosso, mostra-nos que não estamos sozinhos. Tu és o Pai. Mostra-nos que Cristo já carregou sobre si também o peso daquela cruz. Mostra-nos que Jesus nos chama a carregá-la com Ele, abandonando-nos confiantes ao teu amor de Pai. Obrigado.

Catequese do Papa Francisco
1 de Maio de 2019



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