Catequese sobre os Atos dos Apóstolos #07
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
A comunidade eclesial descrita no livro dos Actos dos Apóstolos vive das muitas riquezas que o Senhor põe à sua disposição — o Senhor é generoso! — experimenta crescimento numérico e muita efervescência, apesar dos ataques externos. Para nos mostrar esta vitalidade, Lucas, no Livro dos Actos dos Apóstolos, indica-nos também lugares significativos, por exemplo o pórtico de Salomão (cf. At 5, 12), ponto de encontro dos crentes. O pórtico (stoà) é uma galeria aberta que serve de abrigo, mas também de ponto de encontro e testemunho. Lucas, de facto, insiste nos sinais e maravilhas que acompanham a palavra dos Apóstolos e no cuidado especial dos doentes aos quais eles se dedicam.
No capítulo 5 dos Atos, a Igreja nascente é mostrada como um «hospital de campo» que acolhe os mais débeis, isto é, os doentes. O sofrimento deles atrai os Apóstolos, que não possuem «nem prata nem ouro» (At 3, 6) — assim diz Pedro ao coxo — mas sentem-se fortes pelo nome de Jesus. Aos seus olhos, como aos olhos dos cristãos de todos os tempos, os doentes são destinatários privilegiados da boa nova do Reino, são irmãos nos quais Cristo está presente de modo especial, para que sejam procurados e encontrados por todos nós (cf. Mt 25, 36.40). Os doentes são privilegiados para a Igreja, para o coração sacerdotal, para todos os fiéis. Não devem ser descartados, pelo contrário, devem ser curados, devem ser cuidados: são objeto de preocupação cristã.
Entre os apóstolos, sobressai Pedro, que tem preeminência no grupo apostólico por causa do primado (cf. Mt 16, 18) e da missão recebida do Ressuscitado (cf. Jo 21, 15-17). É ele que inicia a pregação do querigma no dia de Pentecostes (cf. At 2, 14-41) e que no Concílio de Jerusalém desempenhará uma função diretiva (cf. At 15 e Gl 2, 1-10).
Pedro aproxima-se das macas e passa entre os doentes, tal como fizera Jesus, assumindo sobre si enfermidades e doenças (cf. Mt 8, 17; Is 53, 4). E Pedro, o pescador da Galileia, passa, mas deixa que seja Outro a manifestar-se: que seja o Cristo vivo e ativo! A testemunha, de facto, é aquela que manifesta Cristo, tanto por palavras como com a presença corpórea, que lhe permite relacionar-se e ser um prolongamento do Verbo feito carne na história.
Pedro é aquele que realiza as obras do Mestre (cf. Jo 14, 12): olhando para ele com fé, vê-se o próprio Cristo. Cheio do Espírito do seu Senhor, Pedro passa e, sem que ele faça nada, a sua sombra torna-se uma “carícia”, reparadora, uma comunicação de saúde, uma efusão da ternura do Ressuscitado que se inclina sobre os doentes e restaura a vida, a salvação e a dignidade. Deste modo, Deus manifesta a sua proximidade e faz das feridas dos seus filhos «o lugar teológico da sua ternura» (Meditação matutina, Santa Marta, 14.12.2017). Nas chagas dos doentes, nas doenças que impedem o avanço da vida, há sempre a presença de Jesus, as chagas de Jesus. Há Jesus que chama cada um de nós a cuidar deles, a sustentá-los, a curá-los.
A ação curadora de Pedro despertou o ódio e a inveja dos saduceus, que aprisionaram os apóstolos e, perturbados com a sua misteriosa libertação, proibiram-nos de ensinar. Estas pessoas viram os milagres que os apóstolos fizeram não por magia, mas em nome de Jesus; mas não quiseram aceitar isso e aprisionaram-nos, castigaram-nos. Foram depois libertados milagrosamente, mas os corações dos saduceus eram tão duros que não queriam acreditar no que viam. Então Pedro respondeu oferecendo uma chave da vida cristã: «Obedecer a Deus e não aos homens» (At 5, 29), porque eles — os saduceus — dizem: «Não deveis prosseguir com estas coisas, não deveis curar» — “Eu obedeço a Deus e não aos homens”: é a grande resposta cristã. Significa ouvir a Deus sem reservas, sem atrasos, sem cálculos; aderir a Ele para poder fazer aliança com Ele e com aqueles que encontramos no nosso caminho.
Peçamos também ao Espírito Santo a força para não nos amedrontarmos diante daqueles que nos mandam calar, nos caluniam e até atentam contra a nossa vida. Peçamos-lhe que nos fortaleça interiormente para termos a certeza da presença amorosa e reconfortante do Senhor ao nosso lado.
Catequese do Papa Francisco
28 de Agosto de 2019
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