Estudo do Catecismo da Igreja Católica (§ 27 - § 49)
- O que significa “crer”
Quando professamos a nossa fé dizendo "Creio" ou "Cremos", iniciamos algo essencial, isto é, uma resposta humana ao encontro com Deus.
A fé não é apenas um sentimento ou uma tradição social é, antes de mais, uma resposta livre e consciente do homem a Deus, que se revela e Se oferece.
Professar a fé é também reconhecer a procura profunda e incessante do ser humano por um sentido último para a vida, por verdade e felicidade. A fé abre aos homens "uma luz superabundante" para essa procura existencial.
Mas perguntar "o que significa crer" requer que antes compreendamos quem somos, quem é o homem nessa abertura para o transcendente. Com efeito, segundo o Catecismo, o homem é "capaz" de Deus.
No coração humano está inscrito o desejo por Deus porque o homem foi criado por Deus e para Deus.
Deus não cessa de atrair o homem para Si. Somente n’Ele o homem poderá encontrar a verdade e a felicidade que procura incessantemente.
Por isso, toda a história humana, em culturas, religiões, filosofias, revela uma procura de Deus, mesmo quando ofuscada por imperfeições, equívocos ou desvios.
Entretanto, essa relação vital entre o homem e Deus pode ser esquecida, rejeitada ou ignorada. A indiferença, o pecado, o mal no mundo, o peso das preocupações materiais, o mau exemplo de crentes, ou correntes hostis à religião podem afastar o homem dessa vocação.
Mas mesmo nessa situação, Deus permanece ativo. Ele chama cada homem a procurá-Lo, oferecendo-lhe a possibilidade de retomar a comunhão com Ele.
O homem que procura Deus precisa de esforço interior, como o uso da inteligência, retidão de vontade, humildade de coração e, muitas vezes, do testemunho de outros que o ajudam a encontrar o caminho.
- As vias de acesso ao conhecimento de Deus
O Catecismo indica que há "caminhos" naturais que permitem ao homem chegar ao conhecimento de Deus. Não "provas científicas", mas argumentos convergentes e convincentes que apontam para a existência de Deus.
- A partir do mundo criado
A beleza, a ordem, a lógica, a harmonia, a realidade do devir e da contingência no universo apontam para a origem e o fim último do universo, que chamamos Deus.
Como afirma o apóstolo Paulo: "desde a criação do mundo, Deus que é invisível mostrou claramente o seu poder eterno e a sua divindade nas suas obras. Por isso não têm desculpa".
Filósofos e teólogos, como Santo Agostinho, também invocam a beleza da criação, da terra, do mar, do céu, como "testemunho de louvor" que interpela o homem: "Quem fez o Belo senão o Belo imutável?".
- A partir da natureza humana
A sensibilidade à verdade, à bondade, à beleza, isto é, a liberdade, a consciência moral, a consciência da finitude e da ânsia de infinito... Tudo isso revela no homem a dimensão espiritual, o "germe de eternidade", que não se reduz à matéria.
Essa abertura interior mostra que o homem não é autossuficiente. Ele não tem em si mesmo a origem nem o fim último. Por isso pode dirigir-se a uma causa primeira e a um fim último - a Deus.
Por esses caminhos - o mundo e o homem - é possível alcançar uma certeza razoável da existência de Deus: um Deus pessoal, causa primeira e fim último de tudo.
- O conhecimento de Deus segundo a Igreja
A Igreja ensina que, pela luz natural da razão humana, o homem pode conhecer Deus com certeza, tomando como base o mundo criado.
Essa capacidade existe porque o homem foi criado "à imagem de Deus" e por isso possui uma natureza aberta ao transcendente.
Contudo, não é sempre fácil para o homem, nas condições históricas concretas, alcançar esse conhecimento puramente racional. A fragilidade dos sentidos, da imaginação, os desejos desordenados resultantes do pecado. Tudo isso dificulta o uso eficaz da razão para captar verdades que transcendem o mundo sensível.
Por essa razão, mesmo verdades que seriam acessíveis à razão natural, como verdades religiosas ou morais, podem tornar-se de difícil compreensão ou serem rejeitadas, a menos que a razão receba iluminação adequada.
É por isso que, segundo o Catecismo, o homem precisa da Revelação divina. Não apenas para o que ultrapassa a razão, mas também para ajudar a conhecer e viver aquilo que, embora acessível à razão, se torna obscuro diante da condição humana marcada pelo pecado e pelas limitações.
- Falar de Deus: limitações e analogias
A Igreja confia que é possível falar de Deus a todos os homens, com as outras religiões, com a filosofia, com a ciência, com os descrentes, etc.. A razão humana conserva a capacidade de reconhecer algo de Deus a partir da criação.
Mas essa linguagem humana é necessariamente limitada. Não podemos representar plenamente Deus pelas nossas categorias finitas.
Quando falamos de Deus a partir do mundo e das criaturas, não estamos a definir Deus com precisão absoluta, estamos apenas a apontar, por analogia, as perfeições finitas do mundo como a verdade, a bondade, a beleza, a ordem… que indicam algo da perfeição infinita de Deus.
Por isso, a Igreja recorda que, entre o Criador e a criatura, qualquer semelhança envolve uma dissemelhança muito maior. A criatura nunca exaurirá ou igualará o mistério divino.
Mesmo assim, a nossa linguagem chega a Deus de verdade, ainda que de maneira limitada. Podemos falar d’Ele, adorá-Lo, reconhece-Lo, embora não possamos compreendê-Lo na Sua essência.
- Concluindo: a vocação humana à comunhão com Deus
Em síntese, o Catecismo apresenta-nos uma visão elevada da dignidade e vocação humana. Somos criaturas chamadas à comunhão com Deus, abertas ao transcendente, com uma inquietude existencial que nos impele a procurar Deus para encontrar sentido, verdade, felicidade.
O homem, por natureza, não vive plenamente se não reconhecer o seu Criador e entregar-se a Ele. Viver sem Deus deixa a existência incompleta.
Ao mesmo tempo, embora possamos chegar por nossa razão a reconhecer a existência de Deus como causa primeira e destino último, a nossa natureza finita impõe limites: precisamos da revelação divina, da graça e da fé para alcançar plenamente o conhecimento de Deus e viver em comunhão com Ele.
Por fim: a fé, como resposta à oferta amorosa de Deus, é a luz que dá sentido à procura humana, orienta a vida e abre-nos ao mistério do Criador, mesmo quando a nossa razão e linguagem mostram-se insuficientes.
Catarina Pereira e Manuel Sampaio
Catequese e Família






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