A graça sobre rodas

Há vitórias que não cabem apenas no pódio. São metáforas de um país inteiro, do seu jeito de ser discreto e, no entanto, teimosamente luminoso. Madalena Costa, campeã do mundo de patinagem artística — leiam devagar, deixem as palavras assentar —, é a primeira portuguesa a alcançar o topo do mundo num desporto onde a perfeição não se mede apenas em pontos, mas em graciosas voltas de coragem. Pequim, o outro lado do planeta, viu erguer-se uma bandeira que raramente se vê nas pistas de gelo, ou neste caso, nas pistas de brilho.
Portugal é um país que patina sobre as suas próprias incertezas. Falta-nos chão, equilíbrio, impulso. Mas quando uma jovem como Madalena Costa desliza para a história com 260.15 pontos, o país lembra-se de que é capaz. E não está sozinha: Diogo Craveiro, bronze masculino, e Rita Azinheira, campeã júnior, somam-se a esta constelação de nomes que brilham onde raramente chega a luz mediática. João Cruz, outro bronze, completa o quarteto que transforma a patinagem artística numa arte nacional, ainda que por instantes.

Há qualquer coisa de poético nestes atletas. Enquanto o país discute a política e o preço da gasolina, eles treinam em silêncio, repetem movimentos até à exaustão, procuram a harmonia perfeita entre o corpo e a música. São o contrário da pressa e do ruído. São a persistência, o equilíbrio e a elegância que nos faltam no quotidiano.
E talvez seja essa a lição de Madalena e dos seus companheiros: o mundo não se conquista apenas com força, mas com beleza. Não é a pressa que nos leva longe, mas a cadência certa de quem sabe cair e levantar-se, cair e levantar-se outra vez — até que o chão se transforme em palco.
Portugal, esse país de fadistas e navegadores, acaba de descobrir que também sabe dançar sobre rodas. E, por uma vez, não tropeça. Desliza.


Maria Pereira
Catequese e Família


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