Nestes dias eu toquei o Céu
![]() |
Na foto com a jovem Ana Marta, elemento também integrado no grupo da Juventude Blasiana |
Antes de mergulhar na narrativa desta experiência – que, confesso, será difícil de traduzir em palavras – partilho um breve testemunho que uma amiga publicou nas redes sociais, logo após vivermos juntas esta aventura, com mais dezassete companheiras de viagem.
É um punhado de palavras simples, mas certeiras. Uma síntese exímia do que foi esta semana para cada uma de nós:
"JMJ Madrid 2011: uma multidão de pessoas, sol q.b., uma pitada de vento, alguma chuva, poucas horas de sono, uma constipação envolvida de rouquidão, bastante confusão nas refeições e no metro, mas valeu a pena por toda a troca de experiências positivas, por todo o diálogo, e por toda a manifestação de Fé; por todas as pessoas que conheci e por todas as pessoas que revi; pelo silêncio arrepiante contrastando a alegria eufórica dos jovens; pelo encontro com o Papa Bento XVI.
Não há palavras para descrever estes dias... ("trago uma mochila difícil de despejar"). Fica a vontade de repetir e reviver esta miscelânea de sentimentos! ;-)
- “Esta és la juventud del Papa”".
Foi, sem dúvida, uma experiência avassaladora, que guardo com o zelo de quem protege um tesouro. Guardo-a como guardo cada pessoa que caminhou ao meu lado nesta peregrinação. Éramos dezanove, um grupo heterogéneo, mas irmanado sob a bandeira da Juventude Blasiana (Focos de Esperança). Uma dádiva. Um presente de Deus. Uma epopeia de resistência e superação.
O desgaste físico? Incontornável. Uma semana intensa, feita de desafios constantes.
As viagens de metro, por si só, eram um campo de prova. As refeições, um ritual de paciência, consumidas após horas de espera no primeiro pedaço de chão disponível, onde qualquer noção de etiqueta se dissolvia na urgência da fome. O sol, implacável, impunha a regra: hidratar-se ou sucumbir. Água atrás de água, como se não houvesse amanhã.
E, na noite da vigília, a inquietação do relento, um pacto forçado com o chão duro, sob a ameaça invisível de formigas gigantes, dividindo o saco-cama, temendo a chuva e sem qualquer defesa contra ela. Mas foi a noite mais divertida da semana.
E as casas de banho? Um teste de perseverança. Filas intermináveis, quilómetros de espera, uma maratona de paciência que esmorecia até a necessidade mais premente. A água corria tímida, um fio que demorava uma eternidade a encher duas garrafas. Mas havia também a troca de pins e bandeiras, o frenesim de quem colecionava lembranças de outros mundos, numa competição silenciosa pelo maior número de trocas.
E depois, os momentos que justificavam tudo.
Cada encontro com o Papa, cada palavra sua, tornava-nos impermeáveis à dor nos pés, às costas doridas, ao inchaço nas pernas. Gritávamos todos, em uníssono: "¡Esta es la juventud del Papa!" E, de repente, o espanhol era universal. Falávamos todos a mesma língua.
Sentir o impacto avassalador da Via-Sacra, cada passo reencenando o Calvário, e perceber que a emoção apertava a garganta quando menos se esperava. O silêncio absoluto de uma vigília com mais de um milhão de jovens – algo que julguei impossível, mas que aconteceu. A chuva, inesperada, e o Santo Padre, exposto, desprotegido. E nós, como um só corpo, a gritar: "¡No pasa nada!", num gesto coletivo de conforto e coragem. E eu ali, gritando com eles, sentindo a força de um milhão de vozes entrelaçadas.
Conhecem aquele cântico que diz "há um só corpo e um só espírito"? Foi isso. Uma unidade inquebrantável. Não era um campeonato europeu ou mundial de futebol. Não era um concerto apoteótico. Não era um festival de verão repleto de estrelas mediáticas. E, no entanto, estávamos ali. Mais de um milhão de jovens, atravessando as mesmas provações, unidos por uma mesma fé. Movidos pelo Papa e por tudo o que ele representa.
Foi ali que senti a força vibrante de uma Igreja jovem. E foi dali que trouxe a certeza de que a Igreja está viva, pujante, vibrante. De que o cansaço dos que insistem em declará-la ultrapassada se esvai diante da evidência. Cabe-nos a nós mostrar essa vitalidade. Esta é a nossa missão. É nestes momentos que encontramos alento, esperança, sentido para o trabalho que desempenhamos nas nossas comunidades.
Guardo cada instante num cofre inviolável, e ainda assim faltam-me as palavras para vos transmitir a dimensão do vivido. Resta-me a esperança de que, através desta partilha, vos chegue um fragmento desse tempo sagrado.
Acreditem, nestes dias, toquei o Céu.
E, agora, com os pés de volta à terra, resta-me o apelo de Bento XVI a ecoar no coração: "Não guardeis Cristo para vós mesmos. Comunicai aos outros a alegria da vossa Fé."
Natália Matos
Catequese e Família
Vídeo: Organização da JMJ 2011
Partilhe o seu comentário