Catequese sobre os Atos dos Apóstolos #12
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
A viagem do Evangelho no mundo, que São Lucas narra nos Atos dos Apóstolos está acompanhada pela máxima criatividade de Deus que se manifesta de maneira surpreendente. Deus quer que os seus filhos superem qualquer particularismo para se abrirem à universalidade da salvação. Esta é a finalidade: superar os particularismos e abrir-se à universalidade da salvação, pois Deus deseja salvar todos. Quantos renasceram da água e do Espírito — os batizados — são chamados a sair de si mesmos e a abrir-se aos outros, a viver a proximidade, o estilo do viver juntos, que transforma qualquer relação interpessoal numa experiência de fraternidade (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 87).
Pedro, protagonista nos Atos dos Apóstolos juntamente com Paulo, é a testemunha deste processo de “fraternização” que o Espírito deseja introduzir na história. Pedro vive um evento que assinala uma mudança decisiva para a sua existência. Enquanto reza, recebe uma visão que serve de “provocação” divina, para suscitar nele uma mudança de mentalidade. Vê uma grande toalha que desce do alto, dentro da qual há vários animais: quadrúpedes, répteis e aves, e ouve uma voz que o convida a alimentar-se com aquelas carnes. Ele, sendo bom judeu, responde afirmando que nunca comeu nada de impuro, como exigido pela Lei do Senhor (cf. Lv 11). Então a voz insiste vigorosamente: «O que foi purificado por Deus não o consideres tu impuro» (At 10, 15).
Com este facto o Senhor quer que Pedro deixe de avaliar os eventos e as pessoas segundo as categorias do puro e do impuro, mas que aprenda a ir adiante, a fim de considerar a pessoa e as intenções do seu coração. Com efeito, o que torna o homem impuro não vem de fora mas só de dentro, do coração (cf. Mc 7, 21). Jesus disse isto claramente.
Depois daquela visão, Deus envia Pedro a casa de um estrangeiro não circuncidado, Cornélio, «centurião da coorte itálica [...] Piedoso e temente a Deus» que dava largas esmolas ao povo e orava continuamente a Deus (cf. At 10, 1-2), mas não era judeu.
Naquela casa de pagãos, Pedro anuncia Cristo crucificado e ressuscitado e o perdão dos pecados a todo aquele que crê n’Ele. E enquanto Pedro fala, sobre Cornélio e os seus familiares efunde-se o Espírito Santo. E Pedro batiza-os em nome de Jesus Cristo (cf. At 10, 48).
Este acontecimento extraordinário — é a primeira vez que se verifica uma coisa deste género — difunde-se em Jerusalém, onde os irmãos escandalizados com o comportamento de Pedro, o reprovam asperamente (cf. At 11, 1-3). Pedro fez algo que ia além dos costumes, que ia além da lei, e por isso o censuraram. Mas depois do encontro com Cornélio, Pedro sente-se mais livre de si mesmo e mais em comunhão com Deus e com os demais, pois viu a vontade de Deus na ação do Espírito Santo. Portanto, pode compreender que a eleição de Israel não é a recompensa devido a méritos, mas o sinal da chamada gratuita a ser mediação da bênção divina entre os povos pagãos.
Queridos irmãos, aprendamos do príncipe dos Apóstolos que um evangelizador não pode ser um impedimento para a obra criadora de Deus, o qual «quer que todos os homens sejam salvos» (1 Tm 2, 4), mas alguém que favorece o encontro dos corações com o Senhor. E nós, como nos comportamos com os nossos irmãos, sobretudo com quantos não são cristãos? Somos impedimento para o encontro com Deus? Obstaculamos o seu encontro com o Pai ou favorecemo-lo?
Peçamos hoje a graça de nos deixarmos impressionar com as surpresas de Deus, de não impedir a sua criatividade, mas de reconhecer e favorecer as vias sempre novas através das quais o Ressuscitado efunde o seu Espírito no mundo e atrai os corações fazendo-se conhecer como o «Senhor de todos» (At 10, 36). Obrigado.
Catequese do Papa Francisco
16 de Outubro de 2019
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