Catequese sobre a velhice #16
Já estamos nas últimas catequeses dedicadas à velhice. Hoje entramos na comovedora intimidade da despedida de Jesus dos seus, amplamente narrada no Evangelho de João. O discurso de despedida começa com palavras de consolação e promessa: «Não se turbe o vosso coração» (14, 1); «Quando Eu tiver ido e vos tiver preparado um lugar, virei novamente e levar-vos-ei comigo, para que onde Eu estiver estejais vós também» (14, 3). Como são bonitas estas palavras do Senhor!
Pouco antes, Jesus disse a Pedro: «Seguir-me-ás mais tarde» (13, 36), recordando-lhe a passagem através da fragilidade da sua fé. O tempo de vida que resta para os discípulos será, inevitavelmente, uma passagem pela fragilidade do testemunho e pelos desafios da fraternidade. Mas será também uma passagem através das emocionantes bênçãos da fé: «Quem acreditar em mim fará também as obras que Eu faço e fará obras ainda maiores do que estas» (14, 12). Pensai na promessa que isto é! Não sei se pensamos até ao fundo, se acreditamos plenamente nisto! Não sei, às vezes penso que não...
A velhice é o tempo propício para o testemunho comovedor e jubiloso desta expetativa. O idoso e a idosa permanecem à espera, à espera de um encontro. Na velhice, as obras da fé que nos aproximam, a nós e aos outros, do reino de Deus, já estão para além do poder das energias, palavras e impulsos da juventude e da maturidade. Mas tornam ainda mais transparente a promessa do verdadeiro destino da vida. E qual é o verdadeiro destino da vida? Um lugar à mesa com Deus, no mundo de Deus. Seria interessante ver se nas Igrejas locais existe alguma referência específica, destinada a revitalizar este ministério especial da expetativa do Senhor – é um ministério, o ministério da expetativa do Senhor – encorajando os carismas individuais e as qualidades comunitárias da pessoa idosa.
Uma velhice consumida no desalento pelas oportunidades perdidas causa desânimo a si próprio e a todos. Ao contrário, a velhice vivida com docilidade, vivida com respeito pela vida real dissolve definitivamente o equívoco de um poder que deve ser suficiente para si mesmo e para o próprio sucesso. Dissolve até o equívoco de uma Igreja que se adapta à condição do mundo, pensando assim que governa definitivamente a sua perfeição e realização. Quando nos libertamos desta presunção, o tempo do envelhecimento que Deus nos concede já é em si mesmo uma daquelas obras “maiores” de que Jesus fala. Com efeito, trata-se de uma obra que a Jesus não foi concedido fazer: a sua morte, ressurreição e ascensão ao Céu tornaram-na possível para nós! Recordemos que “o tempo é superior ao espaço”. É a lei da iniciação. A nossa vida não se destina a fechar-se em si mesma, numa imaginária perfeição terrestre: está destinada a ir além, através da passagem da morte, visto que a morte é uma passagem. Na verdade, o nosso lugar estável, o nosso ponto de chegada não é aqui, é ao lado do Senhor, onde Ele habita para sempre.
Aqui na terra começa o processo do nosso “noviciado”: somos aprendizes da vida – no meio de mil dificuldades – aprendemos a apreciar o dom de Deus, honramos a responsabilidade de o partilhar e de o fazer frutificar para todos. O tempo da vida na terra é a graça desta passagem. A presunção de parar o tempo – desejar a juventude eterna, a riqueza ilimitada, o poder absoluto – não só é impossível, mas delirante.
A nossa existência na terra é o tempo da iniciação à vida: é vida, mas que te leva em frente para uma existência mais plena, a iniciação daquela mais plena; uma vida que somente em Deus encontra o cumprimento. Somos imperfeitos desde o início e continuamos imperfeitos até ao fim. No cumprimento da promessa de Deus, a relação inverte-se: o espaço de Deus, que Jesus nos prepara com todo o cuidado, é superior ao tempo da nossa vida mortal. Eis: a velhice aproxima a esperança deste cumprimento. A velhice conhece definitivamente o significado do tempo e as limitações do lugar em que vivemos a nossa iniciação. É por isso que a velhice é sábia: é por isso que os idosos são sábios. Portanto, ela é credível quando convida a rejubilar com o passar do tempo: não é uma ameaça, é uma promessa. A velhice é nobre, não tem necessidade de se pintar para mostrar a sua nobreza. Talvez haja pintura quando falta a nobreza. A velhice é credível quando convida a rejubilar com o passar do tempo: mas o tempo passa e isto não é uma ameaça, é uma promessa. A velhice que redescobre a profundidade do olhar da fé não é conservadora por sua natureza, como se costuma dizer! O mundo de Deus é um espaço infinito, sobre o qual a passagem do tempo já não tem influência alguma. E foi precisamente na última Ceia que Jesus se projetou para esta meta, quando disse aos discípulos: «De agora em diante já não bebereis deste fruto da vinha, até ao dia em que Eu o voltar a beber convosco no reino do meu Pai» (Mt 26, 29). Foi além! Na nossa pregação, o Paraíso é muitas vezes, com razão, repleto de bem-aventurança, luz e amor. Talvez lhe falte um pouco de vida. Nas parábolas, Jesus falava do reino de Deus, instilando-lhe mais vida. Será que já não somos capazes disto, quando falamos sobre a vida que continua?
Amados irmãos e irmãs, a velhice vivida na expetativa do Senhor pode tornar-se a “apologia” completa da fé, que a todos dá a razão da nossa esperança (cf. 1 Pd 3, 15). Pois a velhice torna transparente a promessa de Jesus, projetando-se para a Cidade santa, da qual fala o livro do Apocalipse (caps. 21-22). A velhice é a fase da vida mais adequada para propagar a boa notícia de que a vida é uma iniciação para um cumprimento definitivo. Os idosos constituem uma promessa, um testemunho de promessa. E o melhor ainda há de vir. O melhor ainda há de vir: é como a mensagem do idoso e da idosa crentes, o melhor ainda há de vir. Deus conceda a todos nós uma velhice capaz disto!
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