Estudo do Catecismo da Igreja Católica (§ 142 - § 184)
O Catecismo da Igreja Católica apresenta a fé como resposta do homem a Deus que Se revela com amor e chama cada pessoa a entrar em relação com Ele. Esta parte do Catecismo desenvolve o sentido da fé pessoal e comunitária, a sua natureza, características e a sua importância no caminho da salvação.
1. A fé como resposta do Homem a Deus
Pelo simples facto de Deus se revelar, Ele vem ao encontro do homem: "Deus invisível, na riqueza do seu amor, fala aos homens como amigos e convive com eles, para os convidar e admitir à comunhão com Ele". A resposta adequada ao convite de Deus é a fé.
A fé não é apenas uma ideia ou conceito intelectual. É um ato de adesão pessoal com todo o ser humano. Pela fé, o homem submete a sua inteligência e vontade a Deus revelador, dando-Lhe o seu assentimento. A Sagrada Escritura chama a esta entrega "a obediência da fé".
2. O modelo de fé: Abraão e Maria
Abraão - Pai de todos os crentes
O Catecismo aponta Abraão como o modelo da fé desde o Antigo Testamento. Pela fé, Abraão obedeceu a Deus quando foi chamado a partir para uma terra desconhecida e viveu como peregrino na terra prometida. A sua fé levou-o a confiar em Deus mesmo nas provas extremas, como quando se preparou para oferecer o seu filho Isaac.
Assim, "Abraão acreditou em Deus, e isto foi-lhe atribuído como justiça". A fé de Abraão tornou-o "o pai de todos os crentes".
Maria - Feliz aquela que acreditou
No Novo Testamento, a Virgem Maria aparece como o exemplo perfeito de obediência da fé. No anúncio do anjo Gabriel, Maria responde com total confiança: "Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra". Isabel proclama-a "bem-aventurada" porque Maria acreditou no cumprimento das promessas de Deus.
Maria permaneceu fiel à fé ao longo da sua vida, inclusive nos momentos mais dolorosos, como a morte de Cristo na cruz. Por isso, a Igreja a venera como a realização mais plena da fé humana.
3. A natureza da fé
Fé como adesão pessoal a Deus
A fé é, antes de mais, uma adesão pessoal a Deus, fundamentada na confiança absoluta n’Ele. A razão e a inteligência humanas unem-se ao ato de fé, mas o motivo principal para crer não se encontra na razão pura, mas na autoridade de Deus que revela a verdade.
Crer em Jesus Cristo, Filho de Deus
Para o cristão, crer em Deus é inseparável de crer em Jesus Cristo, porque Ele é o Verbo feito carne e o revelador perfeito do Pai: "O Filho Unigénito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer". Por isso, acreditar em Jesus é também acreditar em Deus Pai.
Crer no Espírito Santo
A fé não é possível sem o Espírito Santo, que revela quem é Jesus e capacita o coração humano a confessá-Lo como Senhor. Ninguém pode dizer «Jesus é Senhor» sem a ação do Espírito.
4. Características da fé
A fé é um dom de Deus
A fé não nasce do esforço humano, mas é um dom gratuito de Deus. É infundida no coração pela graça divina e pelos auxílios do Espírito Santo que movem o coração humano a Deus.
A fé é um ato humano
Embora seja um dom de Deus, a fé continua a ser um ato humano livre, que inclui a adesão consciente da inteligência e da vontade. A fé respeita a dignidade humana e a liberdade.
A fé e a razão
O Catecismo afirma que não existe verdadeira contradição entre fé e razão. Como Deus é a fonte tanto da revelação como da razão humana, a busca sincera da verdade "nunca estará em oposição à fé".
A fé é voluntária
Para ser fé genuína, a resposta humana a Deus deve ser livre. Deus chama, mas não constrange. Tal como Cristo não forçou ninguém a crer, a fé cresce no coração livre e disposto a acolher a verdade divina.
5. Necessidade e perseverança na fé
O Catecismo lembra que a fé é necessária à salvação: sem fé não é possível agradar a Deus nem alcançar a vida eterna. Além disso, a fé precisa perseverar até ao fim da vida humana.
Para isso, é necessário alimentar a fé com a Palavra de Deus, pedir ao Senhor que a aumente, vivê-la na caridade, enraizá-la na esperança e na comunhão da Igreja.
6. A fé como vida eterna iniciada
A fé permite ao crente saborear antecipadamente a alegria da visão beatífica que um dia teremos de Deus face a face. Enquanto caminhamos neste mundo, a fé vive «pela confiança, e não pela vista», e assim nos sustenta nas provas e nas dificuldades.
7. A dimensão comunitária da fé: "Nós cremos"
Embora a fé comece como uma decisão pessoal ("Eu creio"), ela nunca é solitária. Ninguém recebe a fé sozinho, nem a transmite sozinho. A fé é um dom recebido da Igreja e também transmitido por ela.
A expressão "Nós cremos" refere-se à fé da Igreja, confessada em concílios e na assembleia litúrgica. A Igreja é chamada de Mãe de todos os crentes, porque é através dela que recebemos a fé e crescemos nela.
A fé da Igreja precede, sustenta e nutre a fé de cada crente, e a comunhão na fé liga todos os batizados numa única família espiritual.
8. Resumo dos principais ensinamentos
O Catecismo da Igreja Católica resume este ensinamento afirmando que:
A fé é uma adesão pessoal do homem a Deus que Se revela.
"Crer" tem dupla referência: à pessoa e à verdade.
Só Deus - Pai, Filho e Espírito Santo - merece ser crido.
A fé é dom sobrenatural e ato humano livre.
A fé é um ato eclesial. A Igreja é Mãe da fé.
A fé é necessária à salvação e é já um antegosto da vida eterna.
Catarina Pereira e Manuel Sampaio
Catequese e Família






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