Batismo, porta de salvação
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O Batismo de Cristo, Antoine Coypel (França 1685 - 1695) |
A solenidade do Batismo do Senhor, celebrada neste próximo domingo, convida-nos a mergulhar nas águas profundas do mistério de Cristo. Mas será que compreendemos realmente a radicalidade deste gesto? Olhemos para o cenário: o Filho de Deus, sem pecado, aproxima-se das margens do Jordão, onde João Batista, profeta austero, anuncia a necessidade de conversão. Uma cena simples, quase humilde, mas carregada de simbolismo avassalador.
Não era necessário que Jesus fosse batizado. A lógica humana perguntaria: porquê sujeitar-se a um ritual destinado aos pecadores? Aqui, o mistério da encarnação de Deus explode nas nossas categorias confortáveis. Jesus não se limita a observar a humanidade de uma distância segura. Ele desce às águas lamacentas do Jordão, identificando-Se com a nossa condição, não por necessidade própria, mas para nos abrir uma porta de salvação.
Este ato, que à primeira vista parece uma contradição, é uma declaração poderosa: Deus não tem medo de sujar as mãos. Não teme a vulnerabilidade. O Batismo de Jesus é o ponto de partida de um ministério que culminará na cruz. É a manifestação pública de um Deus que abraça o sofrimento humano, não como espectador, mas como participante ativo.
E nós? Que lição extraímos deste gesto? O Batismo do Senhor interpela-nos a sair do conforto das nossas certezas. Será que estamos dispostos a descer às margens da vida, onde a dor e a injustiça clamam por redenção? Ou preferimos permanecer em territórios seguros, onde a fé se pratica sem riscos nem sacrifícios?
A solenidade do Batismo do Senhor é um convite a uma fé comprometida, a um cristianismo que não se contenta com superficialidades. É um apelo à coragem de abraçar as águas turbulentas da existência, confiando que, tal como Jesus emergiu das águas com a confirmação do Pai, também nós seremos sustentados pela graça divina.
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