“O lobo que encontrou a amizade”
Há dias li este livro aos meus cinco netos. Confesso que deve ser para aí a nona vez que o leio, mas eles gostam sempre da história do lobo Lopo (um trava-língua engraçado) e dos amigos que arranjou e nunca mais esqueceu. A Margarida, a frequentar o 1.º ano, já procura ler histórias aos irmãos e primos, mas como (ainda) lê muito devagar, eles fartam-se à terceira página… Mas a batalha está ganha: todos gostam de “ler” livros, deliciando-se a imaginar as cenas e – espero eu – a assimilar os valores subjacentes à história.
A propósito (ou não) do lobo Lopo, verifico, com preocupação, que os recentes dados publicados pela OCDE sobre o nível de literacia (e numeracia) dos portugueses adultos devia envergonhar-nos. Estamos mesmo muito mal, comparando-nos, claro, com os países desenvolvidos.
Também os resultados dos alunos portugueses em testes internacionais, designadamente o PISA, têm vindo a piorar desde há dez anos. Muitas dificuldades em Matemática e também em Português.
Não é preciso ser professor para reconhecer que muitas das dificuldades da Matemática (e das outras disciplinas) derivam das deficiências na língua portuguesa, pois quando não se sabe interpretar bem uma pergunta, dificilmente se resolve bem a questão.
Vem mesmo a propósito de tudo isto a recente “Carta do Papa Francisco sobre o papel da literatura na educação” (inicialmente pensada para os seminaristas, mas que acabou por se destinar a todas as pessoas), pretendendo estimular o gosto pela leitura, propondo uma nova atitude perante os livros. O Papa refere os “incontestáveis benefícios da leitura de um bom livro” e das consequências positivas que decorrem deste “hábito de ler”, como ajudar a “adquirir um vocabulário mais amplo”, a desenvolver a própria inteligência, a estimular a imaginação e a criatividade, a melhorar a capacidade de concentração “acalmando o stress e a ansiedade”.
Além disto, insiste o Papa, “lendo um texto literário” vemos através dos olhos dos outros, desenvolvemos “o poder empático da imaginação”, “descobrimos que o que sentimos não é só nosso, é universal, e, por isso, até a pessoa mais abandonada não se sente só”.
É claro que falamos de “bons livros”. Devemos, pois, fazer uma seleção, servindo-nos de comentários de amigos e de outros meios. Eu próprio, para me organizar, vou registando num documento digital os livros recomendados por revistas católicas que assino (permitam-me destacar, de entre outras, a Além-Mar, dos Missionários Combonianos, e o já extinto Mensageiro de Santo António, dos Frades Menores Conventuais), ou por comentadores televisivos “de confiança”. A lista, criteriosa (pois nem tudo o que aconselham eu acolho), tem neste momento nada menos nada mais do que 63 sugestões!
O convite à leitura é para todos. Mas se os adultos são mais difíceis de sensibilizar, há que apostar, especialmente, nos mais novos. Se, desde bebés, as crianças ouvirem ler livros de histórias e se virem os seus pais também a ler, está facilitado o caminho para estas crianças adquirirem o gosto da leitura. Não “por obrigação”, mas por “gozo”. E quem gosta de ler, também com mais facilidade saberá estudar (que, quer queiramos quer não, exige a leitura). E embora também possamos ler livros e revistas e jornais (como o Jornal da Família) através de um dispositivo móvel (normalmente o telemóvel), pelo menos as crianças devem habituar-se a ler documentos impressos. Até nós, adultos com cabelos pretos ou grisalhos (ou sem cabelo), gostamos mais de sentir o papel nas nossas mãos, fazer anotações ou mesmo sublinhar o mais importante…
Perante a “onipresença dos meios de comunicação social, das redes sociais, dos telefones celulares e de outros dispositivos” (Papa Francisco), fiquemos com este compromisso de ler mais e, sobretudo, de fazer os nossos filhos e netos lerem mais, não esquecendo de os estimular na leitura de trechos bíblicos, orações e outras leituras adequadas às suas idades. E, porque não, oferecermos-lhes a assinatura de revistas juvenis, como por exemplo a Audácia, como eu faço desde há muito?
Bem, e o Lopo? Não, não me esqueci dele… A sua história de vida – atribulada (porque além de “lobo”, era mais pequeno do que os seus semelhantes) – na busca da amizade termina assim: “Fiel à sua palavra, o Lopo mudou para melhor. O seu mundo é agora mais amistoso e acolhedor. Pois se algum dia na vida estivermos perdidos sabemos que podemos contar com os nossos amigos”.
Boas leituras!
Jorge Cotovio
jfcotovio@gmail.com
Artigo da edição de fevereiro de 2025 do Jornal da Família
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