Francisco Pinto Balsemão, o homem que acreditava nas palavras




Há nomes que parecem pertencer mais ao tempo do que às pessoas. Francisco Pinto Balsemão é um desses nomes. Uma espécie de metáfora viva do país que quis crescer depressa demais e, ainda assim, preservar alguma decência. Não foi apenas o empresário de comunicação que fundou jornais e televisões, nem apenas o político discreto que ocupou, com contenção e sentido de dever, o cargo de primeiro-ministro num tempo de transição e incerteza. Foi, acima de tudo, um jornalista no sentido mais nobre e antigo da palavra: aquele que acredita que a liberdade de informar é uma forma de resistência.
Na sua geração, ser jornalista não era um ofício; era uma profissão de fé. Havia uma crença quase teimosa de que a palavra escrita podia moldar consciências e, com sorte, mudar o país. Balsemão nunca abandonou essa crença. Mesmo quando o poder político lhe caiu sobre os ombros, manteve o olhar de quem procura a verdade e o ouvido de quem escuta o murmúrio das ruas. No seu legado, o Expresso surge como um monumento à liberdade: uma casa feita de papel e ideias, onde se discutiu o futuro com a serenidade de quem sabe que a democracia é um exercício diário e imperfeito.
Num tempo em que o ruído tomou o lugar da palavra e a rapidez substituiu a reflexão, a figura de Balsemão parece quase anacrónica - e, por isso mesmo, necessária. Representa a velha escola do jornalismo que não se rende ao espetáculo, que prefere perder leitores a perder credibilidade, que acredita que a liberdade não é apenas um direito, mas uma responsabilidade moral.
O seu maior legado talvez seja esse: ter mostrado que a independência não se negocia, que o poder precisa sempre de quem o questione, e que o jornalismo, quando é feito com coragem e rigor, continua a ser uma das formas mais puras de cidadania.
Francisco Pinto Balsemão foi - e continuará a ser - o exemplo de que a palavra pode, ainda, ser um ato de coragem.



Maria Pereira
Catequese e Família


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