Catequese sobre o Pai Nosso #07


Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

A audiência de hoje realiza-se em dois lugares. Primeiro, encontrei-me com os fiéis de Benevento, que estavam em São Pedro, e agora convosco. E isto deve-se à delicadeza da Prefeitura da Casa Pontifícia que não quer que sintais frio: agradeçamos-lhe que pensou nisto. Obrigado.

Prossigamos as catequeses sobre o “Pai-Nosso”. O primeiro passo de cada prece cristã é ingresso num mistério, o da paternidade de Deus. Não se pode rezar como papagaio. Ou entras no mistério, na consciência de que Deus é o teu Pai, ou não rezas. Se eu orar a Deus, meu Pai, entro no mistério. Para compreender em que medida Deus é nosso pai, pensemos nas figuras dos nossos pais, mas devemos sempre até certo ponto “refiná-las”, purificá-las. O próprio Catecismo da Igreja Católica diz: «A purificação do coração tem em vista as imagens paternas ou maternas resultantes da nossa história pessoal e cultural, que influenciam o nosso relacionamento com Deus» (n. 2779).

Nenhum de nós teve pais perfeitos, nenhum: como nós, por nossa vez, nunca seremos pais ou pastores perfeitos. Todos temos defeitos, todos. Vivemos as nossas relações de amor sempre sob o sinal dos nossos limites e também do nosso egoísmo, portanto com frequência são manchadas por desejos de posse ou de manipulação do outro. Por isso às vezes as declarações de amor convertem-se em sentimentos de raiva e de hostilidade. Mas veja, estes dois amavam-se tanto na semana passada, hoje não se suportam: vemos isto todos os dias! É por isso, pois todos temos raízes amargas dentro, que não são boas, e às vezes saem e fazem sofrer.

Eis por que, quando falamos de Deus como “pai”, enquanto pensamos na imagem dos nossos pais, especialmente se nos amaram, ao mesmo tempo devemos ir além. Porque o amor de Deus é o do Pai que “está nos céus”, segundo a expressão que Jesus nos convida a usar: o amor total que nós experimentamos nesta vida só de maneira imperfeita. Os homens e as mulheres são eternamente mendigos de amor — somos mendigos de amor, precisamos de amor — procuram um lugar onde finalmente ser amados, mas não o encontram. Quantas amizades e quantos amores desiludidos há no nosso mundo; muitos!

O deus grego do amor, na mitologia, é em absoluto o mais trágico: não se entende se é um ser angélico ou um demónio. A mitologia diz que é filho de Póros e Pênia, isto é da dissimulação e da pobreza, destinado a ter em si um pouco da fisionomia destes pais. Eis por que podemos pensar na natureza ambivalente do amor humano: capaz de florescer e de viver vigorosamente numa hora do dia, e de repente depois murchar e morrer; o que apanha, escapa-lhe sempre (cf. Platão, O Banquete, 203). Há uma expressão do profeta Oseias que enquadra de maneira impiedosa a fraqueza congénita do nosso amor: «O vosso amor é como a nuvem da manhã, como o orvalho matutino que logo se dissipa» (6, 4). Eis o que muitas vezes é o nosso amor: uma promessa com dificuldade para se manter, uma tentativa que depressa evapora e seca, quase como quando de manhã nasce o sol e enxuga o orvalho da noite.

Quantas vezes, nós homens, amámos desta maneira tão frágil e intermitente. Todos nós tivemos esta experiência: amámos mas depois aquele amor diminuiu ou tornou-se frágil. Desejosos de amar, depois entramos em conflito com os nossos limites, com a pobreza das nossas forças: incapazes de manter uma promessa que nos dias de graça nos parecia fácil de realizar. No fundo também o apóstolo Pedro teve medo e fugiu. O apóstolo Pedro não foi fiel ao amor de Jesus. Há sempre esta fragilidade que nos faz cair. Somos mendigos que no caminho corremos o risco de nunca encontrar completamente aquele tesouro que procuramos desde o primeiro dia da nossa vida: o amor.

Contudo, existe outro amor, o do Pai “que está nos céus”. Ninguém deve duvidar de que é destinatário deste amor. Ele ama-nos. “Ama-me”, podemos dizer. Se até o nosso pai e a nossa mãe não nos tivessem amado — uma hipótese histórica — há um Deus nos céus que nos ama como ninguém nesta terra jamais fez nem poderá fazer. O amor de Deus é constante. Diz o profeta Isaías: «Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria. Eis que Eu gravei a tua imagem na palma das minhas mãos» (49, 15-16). Hoje a tatuagem está na moda: “Eu gravei a tua imagem na palma das minhas mãos”. Fiz uma tatuagem de ti nas minhas mãos. Estou nas mãos de Deus e não a possa cancelar. O amor de Deus é como o amor de uma mãe, que nunca se esquece. E se uma mãe se esquecer? “Eu não me esquecerei”, diz o Senhor. Este é o amor perfeito de Deus, assim somos amados por Ele. Se também todos os nossos amores terrenos se despedaçassem e nas nossas mãos ficasse apenas pó, haverá sempre para todos nós, ardente, o amor único e fiel de Deus.

Na fome de amor que todos sentimos, não procuremos algo que não existe: ela é o convite a conhecer Deus que é pai. A conversão de Santo Agostinho, por exemplo, passou por este cume: o jovem e brilhante reitor buscava simplesmente entre as criaturas algo que nenhuma criatura lhe podia dar, até que um dia teve a coragem de erguer os olhos. E naquele dia conheceu Deus. Deus que ama.
A expressão “nos céus” não exprime distância mas uma diversidade radical de amor, outra dimensão de amor, um amor incansável, um amor que permanecerá para sempre, aliás, que está sempre ao alcance das mãos. É suficiente dizer “Pai nosso que estais nos Céus”, e aquele amor chega.
Portanto, não tenhais medo! Nenhum de nós está sozinho. Se por desventura o teu pai terreno se tiver esquecido de ti e tu sentires rancor contra ele, não te é negada a experiência fundamental da fé cristã: a de saber que és filho muito amado de Deus, e que nada na vida pode cancelar o seu amor apaixonado por ti.
Catequese do Papa Francisco
20 de Fevereiro de 2019



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