Estudo do Catecismo da Igreja Católica (§ 198 - § 231)





Creio em Deus Pai: Fundamento da Fé Cristã no Catecismo da Igreja Católica



Porque começamos por Deus?

A profissão de fé cristã começa com Deus porque Ele é "o Primeiro e o Último", o Princípio e o Fim de tudo (cf. Is 44, 6). O Credo inicia-se com Deus Pai, pois Ele é a Primeira Pessoa da Santíssima Trindade. A criação do céu e da terra, mencionada no início do Símbolo dos Apóstolos, também marca o começo e o fundamento de toda a obra de Deus. Esta introdução afirma a centralidade de Deus na fé cristã, isto é, tudo o que existe tem a sua origem no Criador e encontra o seu pleno sentido n’Ele.
O primeiro artigo do Credo, "Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra", é o alicerce de toda a fé e toda a vida cristã. É a base para a compreensão da nossa relação com Deus, com o mundo e com nós mesmos.

I. "Creio em Deus": A afirmação fundamental da fé

A declaração "Creio em Deus" é a afirmação inicial e mais fundamental da profissão de fé. Todo o Credo fala de Deus. Mesmo quando refere o homem ou o mundo, fá-lo sempre em relação a Deus. Os outros artigos do Credo ajudam-nos a conhecer melhor Deus, à medida que Ele progressivamente Se revelou à humanidade ao longo da história da salvação.

1. "Creio em um só Deus"

A confissão de que há um único Deus está no coração da fé cristã e da Revelação antiga. Esta unicidade não é apenas a afirmação da existência de Deus, mas a rejeição de qualquer pluralidade de deuses. Só existe um Deus verdadeiro, em natureza, substância e essência.
Por meio do Antigo Testamento, Deus revelou-Se ao Seu povo de Israel como "o único Senhor" e pediu amor total e exclusivo para com Ele.
No Novo Testamento, o próprio Jesus confirma esta unicidade e a necessidade de amar Deus com todo o coração, alma e força (cf. Mc 12, 29-30).
Confessar Jesus como Senhor não contradiz a fé num Deus único, pois Jesus e o Espírito Santo participam integralmente da divindade única de Deus, sem dividir a sua essência.


II. Deus revela o Seu nome: "Eu sou"

1. A revelação do Nome Divino

Deus não Se apresenta como uma força impessoal, mas revela-Se com um nome próprio, que expressa a Sua identidade e modo de ser. O nome de uma pessoa revela quem ela é, e Deus escolhe revelar-Se progressivamente ao Seu povo.
A revelação mais profunda do nome divino ocorre na teofania da sarça ardente, quando Deus aparece a Moisés e diz: "Eu sou Aquele que sou" (YHWH). Este nome misterioso indica que Deus é o Ser eterno e absoluto, que não depende de nada fora de Si mesmo.

2. Implicações do Nome Revelado

Ao revelar o Seu nome, Deus mostra-Se próximo e fiel ao Seu povo, lembrando-Se das promessas feitas aos patriarcas e mantendo-as ao longo da história da salvação. Deus não é um ser distante ou indiferente, mas Aquele que está presente para libertar, guiar e salvar.
A revelação do nome divino suscita também no homem um sentimento de reverência e pequenez diante da santidade de Deus. Tanto Moisés diante da sarça ardente, como o profeta Isaías ou Pedro diante de Jesus, experimentam a própria limitação diante da santidade que excede toda a compreensão humana.

3. Deus de ternura e misericórdia

Apesar da nossa fragilidade e infidelidade, Deus manifesta-Se também como misericordioso e compassivo. Ele aceita caminhar com um povo que muitas vezes falha, e permanece sempre fiel à Sua palavra.
O nome divino exprime tanto a transcendência de Deus - "Aquele que é" - como a Sua proximidade e amor constante.


III. Deus é Verdade e Amor

1. Verdade absoluta

Deus não é apenas o Ser. Ele é também a Verdade absoluta. Todas as Suas palavras são verdadeiras e fiáveis. As Suas promessas cumprem-se sempre.
A verdade de Deus constitui o fundamento do conhecimento verdadeiro e da fé. A verdade manifesta-se na criação e no governo divino do mundo, e culmina na Revelação plena feita em Jesus Cristo.

2. Amor infinito

O Deus revelado nas Escrituras ama gratuitamente o Seu povo. O amor de Deus é comparado a uma ternura superior à de um pai ou mãe e supera todas as infidelidades humanas.
A expressão máxima deste amor é a entrega do Seu próprio Filho, para que o mundo seja salvo. Por meio de Cristo, Deus revela que é verdadeiro Amor. Não apenas amor em ato, mas Amor na Sua própria essência.


IV. Consequências da Fé no Deus único

Crer em Deus tem profundas consequências éticas, espirituais e existenciais:
- conhecer a grandeza de Deus;
- reconhecer a majestade divina leva à adoração e serviço, colocando Deus em primeiro lugar em todas as coisas.

Viver em ação de graças: 
- tudo o que temos e somos vem de Deus; 
- a fé leva-nos a um coração grato, reconhecendo-Lhe o bem recebido.

Respeitar a dignidade humana: 
- todos os homens são criados à imagem de Deus, revelando a unidade e dignidade de cada pessoa.

Usar bem as coisas criadas: 
- a fé orienta-nos a usar os bens do mundo de maneira que nos aproximem de Deus e a desapegar-nos do que nos afasta d’Ele.

Confiar em Deus em todas as circunstâncias: 
- mesmo nas dificuldades, a confiança na fidelidade de Deus fortalece a esperança e a perseverança.

Conclusão: O Deus Revelado é Mistério e Amor

A fé cristã confessa que só existe um Deus, sem igual, Senhor de tudo e misericordioso para com toda a criação.
Deus permanece misterioso e inefável - "Se o compreendesses, não seria Deus" - mas ao mesmo tempo proximamente amoroso, revelando-Se como Verdade e Amor no Seu Ser e nas Suas obras.
Assim, crer em Deus é responder ao chamamento de amar a Deus com todo o coração, alma, mente e forças. Um convite que transforma a vida humana na sua origem, percurso e destino eterno.




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