A pressa que vem do amor




Há pressas que vêm da ansiedade. Outras, do medo. Mas a pressa de Maria, naquele início do Evangelho de Lucas, é de outra natureza. É uma pressa que vem do amor. Uma urgência que brota do coração tocado por Deus.
Maria levanta-se. Sai de casa. Parte ao encontro da sua prima Isabel. E o que poderia ter sido um gesto discreto, quase doméstico, torna-se uma teofania: Deus atravessa montanhas nos passos de uma jovem mulher grávida.
A Visitação não é apenas um episódio da vida de Maria. É uma página onde o Evangelho começa a respirar. É um diálogo entre dois ventres. Um encontro entre duas mulheres habitadas por promessas impossíveis. E no meio desse silêncio cheio de esperança, algo dança: o menino no seio de Isabel estremece, como quem reconhece uma presença maior.
Isabel, tocada pela alegria do Espírito, profetiza. Maria responde com um cântico que não vem apenas dos lábios, mas de toda a sua vida: o Magnificat. Não se exibe. Não se coloca no centro. Exulta em Deus, aquele que repara o mundo por dentro, que olha para o pequeno, que se recorda dos esquecidos.
Este episódio evangélico tem a leveza de um gesto quotidiano e, ao mesmo tempo, a densidade de um mistério. É Deus a visitar Deus. É a humanidade a aprender a mover-se com a delicadeza do Espírito.
Maria ensina-nos aqui que a fé não se vive de joelhos apenas, mas também de pé, a caminho, com os olhos voltados para quem precisa. Mostra-nos que o amor verdadeiro é ativo, atento, disponível. E que, por vezes, as visitas mais simples são as que mais transformam.
Neste mundo de ruídos e dispersão, a Visitação convida-nos a cultivar a presença. A sermos também nós portadores de Cristo no modo como escutamos, como cuidamos, como nos fazemos dom.
Porque, no fundo, a fé é isso: deixar que Cristo passe pelos nossos passos e chegue, através de nós, à casa dos outros.


Ana Conde
Catequese e Família



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