Olha bem para ti antes de querer mudar os outros

'A parábola dos cegos' de Pieter Bruegel, o Velho, séc. XVI



Jesus não tinha papas na língua. Quando queria ensinar algo importante, usava imagens fortes e diretas, como as deste Evangelho (Lucas 6, 39-45). Cegos a guiar cegos, traves nos olhos, árvores que dão frutos podres… Se isto não nos faz pensar, então estamos mesmo distraídos.

Quem te deu carta de condução espiritual?
«Poderá um cego guiar outro cego? Não cairão os dois nalguma cova?» Claro que sim. Mas quantas vezes nos achamos mestres quando ainda estamos a tropeçar no nosso próprio caminho? Quantas vezes queremos ensinar os outros sem antes termos aprendido?
O mundo está cheio de "guias cegos", pessoas que falam de moralidade mas vivem cheias de contradições, que apontam os erros dos outros mas fecham os olhos aos seus próprios defeitos. Já pensaste se, por acaso, tu também não tens sido assim?

E essa trave no teu olho?
Jesus provoca-nos com uma imagem exagerada de propósito. Imaginar alguém a tentar tirar um cisco do olho do outro enquanto tem uma trave enorme na sua própria vista é quase cómico. Mas é exatamente isso que fazemos quando criticamos os outros sem antes olharmos para nós próprios.
Talvez gostes de corrigir o teu amigo porque ele mente, mas será que és sempre sincero? Talvez julgues quem tem atitudes agressivas, mas será que nunca magoaste ninguém com as tuas palavras?
Jesus não diz que não devemos ajudar os outros a melhorar. Mas antes disso, temos de fazer um exame sério da nossa própria vida. Não basta apontar o erro, é preciso ter autoridade moral para o fazer.

O que tens dentro do coração?
Jesus conclui com outra bomba: «Cada árvore conhece-se pelo seu fruto.» Ou seja, não adianta parecer santo por fora se por dentro estás cheio de podridão. Mais cedo ou mais tarde, o que está no teu coração vai transbordar para as tuas palavras, as tuas atitudes e as tuas escolhas.
Se te alimentas de orgulho, egoísmo e falsidade, não esperes que a tua vida produza frutos bons. Mas se te enraizares em Deus, na oração e na verdade, a tua vida será um reflexo d’Ele.

Então, e agora?
O Evangelho deste domingo é um convite (ou melhor, um abanão) para pararmos de viver de aparências e começarmos a mudança dentro de nós. Antes de quereres ser guia de alguém, certifica-te de que não és cego. Antes de quereres corrigir, trata das tuas próprias falhas. E lembra-te: a tua vida fala mais alto do que qualquer palavra.

Que frutos tens dado ultimamente?


João do Carmo
Catequese e Família




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