O peso das palavras e dos gestos

Foto: SAUL LOEB / AFP


O que se passou entre Donald Trump e Volodymyr Zelensky (28 de fevereiro de 2025) não é apenas mais um episódio na longa história de desavenças entre líderes mundiais. É um sintoma de algo mais profundo, um reflexo do tempo em que vivemos, onde o insulto se sobrepõe ao argumento e a força se sobrepõe à diplomacia.
Trump não é um homem de subtilezas. Nunca foi. A sua política faz-se na crueza das palavras, no espetáculo da ofensa, na teatralidade da humilhação. Zelensky, por sua vez, é o líder de um país em guerra, um homem que carrega nos ombros o peso de uma nação martirizada. Entre os dois, o desequilíbrio de poder é evidente. Um, sentado na cadeira da maior potência do mundo, usa o verbo como chicote. O outro, refém da geopolítica, tem de medir cada palavra como quem pisa um campo minado.
O que Trump fez não foi apenas um ataque a Zelensky. Foi um golpe na própria ideia de diplomacia, essa arte cada vez mais esquecida de saber dizer sem destruir, de saber argumentar sem aniquilar. Num mundo onde a guerra já não é apenas uma questão de tanques e mísseis, mas também de narrativas e perceções, a palavra pode ser uma arma letal. E Trump sabe usá-la como poucos - não para construir, mas para dividir.
Os grandes líderes da História sempre compreenderam que o poder da palavra vai além do momento. Churchill moldou a resistência britânica com discursos. Mandela desarmou o ódio com a linguagem da reconciliação. Até os imperadores romanos, senhores de legiões, sabiam que a retórica era tão crucial quanto a espada. Mas Trump? Trump reduz a palavra ao mais básico instinto de agressão, como um gladiador que atira insultos em vez de lanças.
E nós, espectadores deste teatro grotesco, que fazemos? Aplaudimos? Indignamo-nos? Ou simplesmente aceitamos que a política se transformou num ringue onde vence quem grita mais alto?
A tradição cristã ensina-nos que as palavras devem ser usadas para elevar, não para esmagar. O Evangelho recorda-nos que "a boca fala do que o coração está cheio" (Lc 6,45). Se assim for, que nos diz o discurso de Trump sobre a sua visão do mundo? Que mundo queremos nós?
Talvez ainda seja tempo de recuperar o valor do respeito, da escuta, da inteligência no debate público. Talvez seja tempo de exigir mais dos que nos lideram. Ou talvez, num futuro não muito distante, olhemos para este tempo com um misto de incredulidade e vergonha, perguntando-nos como deixámos que a política se tornasse isto.


Manuel Sampaio
Catequese e Família




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(sobre as relações entre Trump e a Rússia)
 - 28/02/2025 -

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Se quiser saber mais sobre este assunto tem o livro de José Rodrigues dos Santos, O Protocolo Caos, com uma parte de ficção e outra parte com a investigação que sintetiza no vídeo.



Sinopse:
Um homem encapuzado sai do carro e abre fogo contra a multidão. Morrem dezenas de pessoas, incluindo bebés. Depois do massacre, tira a máscara e revela a sua identidade: Tomás Noronha.
Um polícia na Rússia é alertado para atividades suspeitas na cave de um prédio. O que descobre irá mudar a história do país.
Uma família americana desfaz-se sem que perceba porquê. A tragédia arrasta-a para uma conspiração que vai dilacerar os Estados Unidos.
Uma médica brasileira é perseguida por tentar salvar vidas. Para a ajudar, Maria Flor tem de enfrentar a turba.
Um birmanês tem na sua posse um documento comprometedor. Se quiser chegar a ele, Tomás Noronha precisa de mergulhar no inferno.
A ligar todos estes episódios está uma mensagem enigmática.
Inspirado em factos reais, O Protocolo Caos transporta-nos ao coração da atualidade mais escaldante e mostra-nos como a Rússia e os seus cavalos de Troia no Ocidente usam as redes sociais para destruir o nosso mundo.


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Outro livro é o de Bob Woodward, um dos jornalistas que revelou o caso do watergate.



Sinopse:
Os bastidores da presidência Trump contados por Bob Woodward
«Poder real é – eu nem quero usar a palavra – medo.»
Candidato Donald Trump, a 31 de Março de 2016, numa entrevista durante a campanha eleitoral à presidência dos Estados Unidos
Tendo acompanhado e investigado a fundo oito presidências, de Nixon a Barack Obama, Bob Woodward revela em primeira mão, num relato sem precedentes e com detalhes nunca antes contados, a vida brutal dentro da Casa Branca de Donald Trump, e como ele decide sobre as grandes questões da atualidade política nacional e internacional. Woodward baseia-se em centenas de horas de entrevistas com fontes de informação em primeira-mão, e também em notas de reuniões, diários pessoais, ficheiros e documentos oficiais. O livro conta ainda os debates explosivos e as tomadas de decisão na Sala Oval, na Situation Room, no Air Force One e na residência oficial da Casa Branca.
MEDO é o retrato mais íntimo de um presidente norte-americano em funções alguma vez publicado durante os seus primeiros anos no cargo.


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