Catequese sobre os Mandamentos #08
Na catequese de hoje voltamos a falar do terceiro mandamento, sobre o dia do repouso. O Decálogo, promulgado no livro do Êxodo, é repetido no livro do Deuteronómio de modo quase idêntico, com a exceção desta terceira Palavra, onde temos uma diferença preciosa: enquanto no Êxodo o motivo do repouso é a bênção da criação, no Deuteronómio, ao contrário, ele comemora o fim da escravidão. Neste dia o escravo deve descansar como o patrão, para celebrar a memória da Páscoa de libertação.
Com efeito, por definição os escravos não podem descansar. Mas existem muitos tipos de escravidão, tanto exterior como interior. Há constrições externas, como as opressões, as vidas raptadas pela violência e por outros géneros de injustiça. Além disso, existem as prisões interiores que são, por exemplo, os bloqueios psicológicos, os complexos, os limites carateriais e outros. Existe descanso nestas condições? Um homem preso ou oprimido pode permanecer, contudo, livre? E uma pessoa atormentada por dificuldades interiores, pode ser livre?
Com efeito, há pessoas que até na prisão vivem uma grande liberdade de espírito. Pensemos, por exemplo, em São Maximiliano Kolbe ou no Cardeal Van Thuan, que transformaram obscuras opressões em lugares de luz. Assim como há pessoas marcadas por grandes fragilidades interiores que, contudo, conhecem o repouso da misericórdia e sabem transmiti-lo. A misericórdia de Deus liberta-nos. E quando nos deparamos com a misericórdia de Deus, temos uma grande liberdade interior e somos também capazes de a transmitir. Por isso, é muito importante abrir-nos à misericórdia de Deus para não sermos escravos de nós mesmos.
Portanto, o que é a verdadeira liberdade? Consiste porventura na liberdade de escolha? Certamente, esta é uma parte da liberdade, e engajamo-nos para que seja garantida a cada homem e mulher (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. Past. Gaudium et spes, 73). Mas bem sabemos que fazer o que desejamos não é suficiente para ser verdadeiramente livres e nem sequer felizes. A verdadeira liberdade é muito mais!
Com efeito, há uma escravidão que acorrenta mais do que uma prisão, mais que uma crise de pânico, mais que uma imposição de qualquer tipo: trata-se da escravidão do próprio ego.(1) Aqueles que se espelham o dia inteiro para ver o ego. E o próprio ego tem uma estatura mais alta do que o próprio corpo. São escravos do ego. O ego pode tornar-se um verdugo que tortura o homem, onde quer que ele se encontre, provocando-lhe a mais profunda opressão, aquela que se chama “pecado”, que não é banal violação de um código, mas fracasso da existência e condição de escravos (cf. Jo 8, 34).(2) Afinal, o pecado é dizer e fazer ego. “Quero fazer isto e não me importa se há um limite, se existe um mandamento, nem sequer importa se existe o amor”.
O ego, pensemos por exemplo nas paixões humanas: o guloso, o luxurioso, o avarento, o iracundo, o invejoso, o preguiçoso, o soberbo — e assim por diante — são escravos dos seus vícios, que os tiranizam e atormentam. Não há trégua para o guloso, porque a gula é a hipocrisia do estômago, que está cheio mas faz-nos crer que está vazio. O estômago hipócrita torna-nos gulosos. Somos escravos de um estômago hipócrita. Não há trégua para o guloso e o luxurioso, que devem viver de prazer; o anseio da posse destrói o avarento, que amontoa sempre dinheiro, fazendo mal ao próximo; o fogo da ira e o caruncho da inveja arruínam os relacionamentos. Os escritores dizem que a inveja amarelece o corpo e a alma, como quando uma pessoa tem hepatite: torna-se amarela. Os invejosos têm a alma amarela, porque nunca podem ter o vigor da saúde da alma. A inveja destrói. A preguiça que evita qualquer esforço torna-nos incapazes de viver; o egocentrismo — aquele ego do qual eu falava — soberbo escava um fosso entre nós e os outros.
Caros irmãos e irmãs, quem é por conseguinte o verdadeiro escravo? Quem é aquele que não conhece o repouso? Quem não é capaz de amar! E todos estes vícios, estes pecados, este egoísmo nos afastam do amor e nos tornam incapazes de amar. Somos escravos de nós mesmos e não podemos amar, porque o amor é sempre pelos outros.
O terceiro mandamento, que convida a celebrar no repouso a libertação, para nós cristãos é profecia do Senhor Jesus, que interrompe a escravidão interior do pecado para tornar o homem capaz de amar. O amor verdadeiro é a liberdade autêntica: desapega da posse, reconstrui os relacionamentos, sabe acolher e valorizar o próximo, transforma em dom jubiloso todo o cansaço, tornando-nos capazes de comunhão. O amor liberta até na prisão, mesmo se somos frágeis e limitados.
Esta é a liberdade que recebemos do nosso Redentor, nosso Senhor Jesus Cristo.
Catequese do Papa Francisco
12 de setembro de 2018
© Copyright - Libreria Editrice Vaticana
Partilhe o seu comentário