A Política dos Likes


AP - Armando Franca



Vivemos numa era em que os algoritmos parecem ter mais poder do que as ideologias, e os likes substituíram os votos como termómetro da popularidade. A política deixou de ser construída nas praças, nos parlamentos e nos programas eleitorais. Hoje, a arena pública migrou para os ecrãs dos smartphones, onde um tweet vale mais que um discurso estruturado e um vídeo viral tem mais impacto do que um debate parlamentar.

O fenómeno não é novo, mas tem vindo a assumir proporções preocupantes. Donald Trump, atualmente no seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, continua a utilizar as redes sociais como principal meio de comunicação, apesar das críticas crescentes sobre a eficácia e legalidade das suas políticas.

A extrema-direita mundial soube colher os frutos deste novo ecossistema. Ao invés de debater ideias, prefere disseminar slogans simples, emocionalmente carregados e facilmente partilháveis. Em Portugal, esta estratégia começa a dar sinais de crescimento. Partidos como o Chega têm apostado fortemente nas redes sociais para construir uma imagem de “proximidade” e “autenticidade”, ao mesmo tempo que difundem discursos polarizadores, muitas vezes desprovidos de factos ou contexto.

Num país onde a literacia mediática ainda é frágil, esta tática tem potencial destrutivo. Através de vídeos curtos, memes ou lives, constroem-se narrativas que apelam ao medo, ao ressentimento e ao preconceito. E, infelizmente, têm audiência. O algoritmo favorece o conteúdo que gera reações, e nada provoca mais reações do que a indignação. A verdade, essa, fica para segundo plano - quando chega a entrar em campo.

Mas o problema não é exclusivo da extrema-direita. Muitos políticos, independentemente do espectro ideológico, rendem-se à lógica das redes. Preferem a selfie num mercado à proposta orçamental, o tweet indignado à negociação política. A política-espetáculo substitui a política de propostas, e os cidadãos, transformados em seguidores, confundem visibilidade com competência.

É urgente resgatar a política como espaço de reflexão, construção e responsabilidade. As redes sociais são ferramentas, e como todas as ferramentas, podem ser usadas para construir ou para destruir. A democracia exige mais do que emojis e partilhas. Exige pensamento crítico, compromisso e verdade. Governar não é influenciar, é servir.


Maria Pereira
Catequese e Família



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