Liberdade e Libertinagem: a subtil mas decisiva diferença
Vivemos tempos curiosos. Fala-se tanto de liberdade que quase nos esquecemos do que ela é. A palavra tornou-se moda, bandeira, desculpa, escapatória. Em nome da liberdade, proclama-se que tudo é válido: cada impulso, cada capricho, cada vontade momentânea. Mas será isto liberdade, ou apenas libertinagem disfarçada?
A verdadeira liberdade é uma coisa exigente. É, na verdade, uma conquista diária. Nasce da capacidade de escolher bem, de pensar antes de agir, de respeitar não apenas os meus direitos mas também os direitos dos outros. A liberdade, para ser digna do nome, obriga a consciência, impõe responsabilidade, pede maturidade.
Libertinagem, pelo contrário, é a versão preguiçosa da liberdade: "faço o que quero, como quero, quando quero" - e que se lixem as consequências. É o triunfo do impulso sobre a razão, do egoísmo sobre a convivência, do imediatismo sobre o futuro. Uma liberdade sem critério, sem lei e sem moral, acaba - ironicamente - por aprisionar. Quem se deixa guiar apenas pelo desejo é, no fundo, escravo dos seus próprios caprichos.
É fácil confundir liberdade com libertinagem numa época que desconfia de tudo o que tenha sabor a norma, autoridade ou obrigação. Mas a verdade, essa coisa teimosa, permanece. Ninguém é verdadeiramente livre se não souber dominar-se. Quem é incapaz de dizer "não" a si próprio já perdeu a liberdade que julgava ter.
O Papa Francisco disse, num dos seus discursos à Europa, que "uma liberdade sem limites é uma nova forma de escravidão". E é. Basta olhar para quem, em nome da liberdade absoluta, destruiu a saúde, a família ou a própria vida. A liberdade é uma corda bamba. Se quisermos atravessar para o outro lado sem regras, sem treino e sem cuidado, a queda é certa.
Por isso, talvez nos devêssemos lembrar de uma verdade simples e antiga: ser livre não é fazer tudo o que me apetece. É ser capaz de escolher o que é bom, mesmo quando não é o mais fácil. E, às vezes, o maior ato de liberdade é saber dizer "não" - aos outros e a nós próprios.
Maria Pereira
Catequese e Família
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