O Papa Francisco e Portugal
O Papa veio duas vezes. Chegou como quem vem de longe, mas trouxe o olhar de quem reconhece os lugares antes de os pisar. Em 2017, veio primeiro. O céu de Fátima acolheu-o como se o esperasse desde sempre. As mãos apertadas dos que rezavam tremiam. Havia silêncio no coração do rumor. Era maio. Era o centenário. Era memória, promessa e dor a aquecerem-se juntas no lume da fé.
Francisco, o homem de branco, canonizou duas crianças - tão leves, tão pequenas, mas com uma fé que segurava o mundo. Francisco e Jacinta Marto: agora santos, agora eternos. A mensagem da Senhora ressoava nas pedras da Cova da Iria e nas almas dos que ainda acreditam no poder suave da oração. Francisco não precisou de levantar a voz: bastou-lhe estar ali, corpo e espírito, presença inteira. E, nessa presença, Portugal ajoelhou-se - não por submissão, mas por amor.
Seis anos depois, em 2023, voltou. E foi Lisboa que o recebeu com braços abertos, ruas em festa, rostos jovens como o primeiro dia do mundo. A cidade acendeu-se de vozes e passos, e cada um dos que vieram trazia no peito uma esperança acesa. Era a Jornada Mundial da Juventude. E Francisco olhava-os como se visse neles o princípio de tudo. Disse: “Na Igreja há espaço para todos, todos, todos” - e essa repetição ficou a pairar como uma melodia antiga, uma verdade que ainda estamos a aprender a acreditar.
Foi ao Bairro da Serafina, onde o concreto tem memória e as janelas conhecem a luta. Rezou com os doentes, tocou o sofrimento com mãos que não julgam. Veio como quem sabe que o Evangelho começa nas margens.
Estas duas visitas foram como páginas do mesmo livro: uma escrita com lágrimas e silêncio, outra com música e futuro. Fátima foi o sussurro da fé, Lisboa, o grito alegre da esperança. E em ambas, o Papa, com a sua maneira de caminhar devagar, mostrou que o amor verdadeiro não tem pressa.
Portugal ouviu-o. E, por instantes, acreditou mais no que pode ser.
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